Às vezes sonho com um retorno a essas horas da infância onde não havia entre mim e Deus uma tão grande distância. Tudo se harmonizava nesse jardim e os meus passos, que eu não sabia serem meus ou sequer passos, caminhavam pelo mundo fora, seguros da sua meta. Um dia, sem dar por isso, tudo se perdeu, ou tudo já estaria perdido e eu ainda não o sabia, soube-o então, soube-o primeiro sem o saber e, com o passar do tempo, fui sabendo cada vez com mais ferocidade. Foi no momento eu que quis ser como os outros, como se estes fossem de alguma maneira, ou soubessem sequer o que seriam se fossem alguma coisa. Nessa hora, Deus afastou-se de mim. Minto. Nessa hora, afastei-me de Deus e a cada dia que passava mais me afastava d’Ele, até Ele não ser mais do que recordação, depois ideia ou sombra, por fim o traço que escrevo no papel ou o suspiro que sai de entre os lábios. Agora não sei o caminho de casa. Quando me dizem que essa casa nunca existiu, assinto com a cabeça, mas o meu coração recusa-se a acreditar.
O coração tem sempre razão. É lá que habita Deus.
ResponderEliminarBelo texto.