76. Despes as palavras
Despes as palavras.
Em cada sílaba
sopra o vento.
E tudo flutua,
a dor ao relento,
ou a seda rasgada
que te deixa branca,
leve e nua.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Poemas do Viandante (75)
75. Um império
Um império
de ervas e
tormentos,
um fulgor
de sedas,
um anjo
que desliza
e trémulo
voa na praia
do esquecimento.
Um império
de ervas e
tormentos,
um fulgor
de sedas,
um anjo
que desliza
e trémulo
voa na praia
do esquecimento.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Poemas do Viandante (74)
74. Os dias
Os dias
onde tudo era
água.
Uma rosa
abria-se
no quintal
e a dor crescia
vinda
no vendaval.
Os dias
onde tudo era
água.
Uma rosa
abria-se
no quintal
e a dor crescia
vinda
no vendaval.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Poemas do Viandante (73)
73. Uma erva baloiça
Uma erva
baloiça
sob a luz
do vento.
Vai e vem,
leve
se arqueia,
e ao tocar a terra
ergue-se
para o firmamento.
sob a luz
do vento.
Vai e vem,
leve
se arqueia,
e ao tocar a terra
ergue-se
para o firmamento.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Poemas do Viandante (72)
72. Sem rosto ou idade
Sem rosto ou idade,
sem luz na colina,
repouso na melancolia
e espero a sombra
que do poente
leva ao meio-dia.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Propriedades
Chegar ao momento da verdade, àquela hora em que o ser e o compreender coincidem. O que sou eu? Nada, puro nada. Tudo o que trago não me pertence, tudo o que ostento foi roubado, tudo o que proclamo, plagiado. Mas será que compreendo tudo isso? Não, não compreendo. Todos dizemos coisas que não compreendemos. Quando o compreender, poderei dizer que tenho tudo e que sou o Rei do mundo. Agora, não passo de um pobre súbdito ajoujado ao peso das suas inúteis posses.
Poemas do Viandante (71)
71. No
desejo da mão
No
desejo da mão,
a voz da alegria.
a voz da alegria.
E um grito ilumina
o que fica de cada dia.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Poemas do Viandante (70)
70. UM PUNHAL RASGA A NOITE
Ave de sombra,
Um punhal rasga a noite
e canta em silêncio.
e canta em silêncio.
Ave de sombra,
pássaro de seda,
luz na boca que fala.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Poemas do Viandante (69)
69. SOMBRA E CLARÃO
Sombra e clarão,
sulco de pedra,
lâmpada
onde ilumino o coração.
Sombra e clarão,
sulco de pedra,
lâmpada
onde ilumino o coração.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Poemas do Viandante (68)
68. Noite, canção
Frutos são rios.
Noite, canção
da floresta.
da floresta.
Frutos são rios.
Sonham
a flor que resta.
a flor que resta.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Poemas do Viandante (67)
67. SE TE TOCO
Se te toco,
as cordas vibrarão
e na penumbra
o frio faz-se luar.
Se te toco,
as cordas vibrarão
e na penumbra
o frio faz-se luar.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Poemas do Viandante (66)
66. MURMÚRIO
o murmúrio da folha ao cair
desenha um raio de luz
voz que me chama ao partir
o murmúrio da folha ao cair
desenha um raio de luz
voz que me chama ao partir
O limite de mim
Por vezes sonho um corpo apenas para o poder desejar, e no desejo daquela pele ou de um olhar, saber-me na verdade do meu ser. À beira da falência, já sem margem ou âncora, o desejo do outro envia-me o limite de mim. Pudera eu perder-me ali e mais perto de me encontrar, ou de Te encontrar, talvez estivesse.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
Caos
O caos é o símbolo do mundo. Mas não foi ao mundo que Ele enviou o Filho? Não foi nele, mundo, que o Filho peregrinou, mesmo que a sua peregrinação também tenha sido uma peregrinatio ad loca infecta? Não foi ao mundo que fomos enviados para que, em nosso peregrinar, exaltemos Aquele que não é deste mundo? O caos é apenas a matéria que espera o nosso operar ordenador, que nunca será apenas nosso. Nele, caos, também estão os deuses.
sábado, 21 de novembro de 2009
O eternamente necessitado
Dependente, eternamente necessitado, o viandante não cessa, em cada instante, de precisar da Sua ajuda. Se lhe lembram a autonomia, o senhorio de si, o viandante sorri e segue viagem. Nos seus lábios, um cântico de gratidão ao Senhor dos exércitos. Um soldado não deve apenas temer o seu general, terá de amá-lo e confiar-lhe, na cegueira da batalha, a vida. Do princípio ao fim.
Poemas do Viandante (62)
62. CORVO
a esquecida friagem
arrefece os olhos
de quem passa
um grito na tarde
e o corvo resvala
na fronteira
onde da vida
a morte se aparta
a esquecida friagem
arrefece os olhos
de quem passa
um grito na tarde
e o corvo resvala
na fronteira
onde da vida
a morte se aparta
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Seja feita a Vossa vontade
Seja feita a Vossa vontade. Mas quando ela vem sobre nós tão contrária ao desejo que nos habita, como pode ser tão pesada? É preciso que a Tua vontade seja feita, pois a nossa não é mais do que vontade corrompida. Mas esta corrupção é difícil de aceitar, de compreender, de avaliar segundo um mérito que não está aferido pelos nossos padrões. Agora que as circunstância manifestaram um querer que eu não quero, eu escuto "seja feita a Vossa vontade". Um silêncio dorido abre-se e uma luta entre vontades toma conta de mim.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Poemas do Viandante (61)
61. CALENDÁRIO DE ERVAS
era o tempo
em que nomeavas
as estações
calendário de ervas
segredo aberto
luz de aluvião
era o tempo
em que nomeavas
as estações
calendário de ervas
segredo aberto
luz de aluvião
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (60)
60. FOGO E LÍRIOS
a música
pela noite
soletrada
fogo e lírios
a crescer
na pedra
pelo outono
maculada
a música
pela noite
soletrada
fogo e lírios
a crescer
na pedra
pelo outono
maculada
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (59)
59. PROMESSAS DE AR
as colinas viradas
ao norte
o olhar vago
com que oiço
os pássaros
promessas de ar
numa casa
em vendaval
as colinas viradas
ao norte
o olhar vago
com que oiço
os pássaros
promessas de ar
numa casa
em vendaval
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (58)
58. DESTINO
de que serve
falar do destino?
o vinho azedou
e na mesa
o pão endurece
é a luz de agosto
de que serve
falar do destino?
o vinho azedou
e na mesa
o pão endurece
é a luz de agosto
domingo, 25 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (57)
57. GOTA DE FEL
a tristeza
de um pequeno prazer
a gota de fel
que cai
e começa
a arder
a tristeza
de um pequeno prazer
a gota de fel
que cai
e começa
a arder
Poemas do Viandante (56)
56. RUMOR
no vão
da janela
um rumor
de espelhos
e as folhas da acácia
abrem-se
ao entrar por ela
no vão
da janela
um rumor
de espelhos
e as folhas da acácia
abrem-se
ao entrar por ela
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (55)
55. FOLHA DE ÁGUA
veio a sombra
e calou
a voz do sol
espalhou
uma lâmina
de água
sobre a erva
agora
um lençol
veio a sombra
e calou
a voz do sol
espalhou
uma lâmina
de água
sobre a erva
agora
um lençol
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
O silêncio cresce
O silêncio cresce desmesurado. Uma quase impossibilidade de escrever ou de ler, um sabor amargo de indiferença por tudo o que toca o caminho. Como se as palavras se tivessem gasto e fosse impossível pegar-lhes.
Poemas do Viandante (54)
54. ACENO
o gesto
que se afoga
no calor da água
as últimas folhas
suspensas
do sol de novembro
o aceno
que me despede
na viagem
o gesto
que se afoga
no calor da água
as últimas folhas
suspensas
do sol de novembro
o aceno
que me despede
na viagem
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Poemas do Viandante (53)
53. LUZ ESMAGADA
foi um longo estio
horas calcinadas
a poeira vinda do sul
e a luz esmagada abria-se
no almofariz da tua mão
foi um longo estio
horas calcinadas
a poeira vinda do sul
e a luz esmagada abria-se
no almofariz da tua mão
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