terça-feira, 20 de agosto de 2019

Transfiguração

Giovanni Segantini, A messa prima, 1884-85
Era o mais popular dos sacerdotes que a paróquia já tivera. Todas as manhãs, bem antes da primeira missa, subia as escadas da Igreja e abria-a. Aos pobres, dava o que tinha. Vivia com pouco, apesar do muito que lhe davam. Aos ricos, ajudava-os a suportar o fardo do egoísmo, abrindo caminhos insuspeitados nos seus corações. Não havia quem não gostasse dele. Num domingo, porém, não o viram subir as escadas. A porta da Igreja, chegada a hora da missa, estava fechada. O tempo passava. Procuraram-no em casa. Não estava. Forçaram a porta do templo. Por trás do altar, ele pendia, sotaina a escorrer sangue, de uma cruz tosca. O rosto era o dele, mas nunca se parecera tanto com Cristo como naquela hora.

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