Se o homem é aquele que percorre a floresta, como lenhador ou guarda-florestal, a mulher é a própria floresta. A floresta não é um sítio onde, vinda do exterior, a mulher penetre e procure um caminho. O caminho da mulher é o reconhecimento da sua própria natureza florestal, com os múltiplos caminhos que a atravessam, com a obscuridade que lhe pertence, mas também com as árvores, os fetos, os líquenes e os musgos. Labiríntica, selvagem, suave, ameaçadora e disponível para ser trilhada. O homem percorre a floresta, intui caminhos, tenta orientar-se. A viagem na floresta, para o homem, é um caminho, uma peregrinação. Para a mulher a única viagem na floresta é a da coincidência consigo mesma, o estar plenamente em si, um ser-se na florestidade que a constitui, com os seus trilhos, perigos e segredos. A floresta é o símbolo da eterna inocência feminina; para o homem, é a oportunidade de, ao percorrer os trilhos florestais, tornar-se inocente.
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