Fernando Calhau, S/título #169, 1974 (Gulbenkian) |
Todo o mundo começa com um trabalho de memória. Na viscosidade da penumbra, na porosa fronteira entre a vigília e o sonho, os tambores da recordação trabalham furiosamente, espalham memórias pelos campos a vir, pelos rios e lagos não nascidos, ordenam-se em batalhões impiedosos para que dessa crueldade nasça o poder da floresta sobre as encostas das grandes montanhas ou a esperança de um oceano que se deixe navegar pelos grandes veleiros da misericórdia. Então a memória flui e o mundo convocado por ela reúne-se sob o seu império e, submisso, dispõe-se a acolher a primeira luz e a semente sanguínea da vida.
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