domingo, 29 de dezembro de 2013

Abandonar-se ao vento

Felix Vallotton - The Wind (1910)

Talvez o primeiro chamamento do espírito, chamamento audível, se dê com a primeira grande decepção consigo mesmo. Pensa-se que é possível parar o vento com a forças das próprias mãos, mas, indomável e imperturbado, o vento segue o seu caminho. O ego faz a experiência da sua pequenez, da irrelevância dos seus desejos, do nada que na verdade é. Tudo se joga então nessa hora. Ou esse pequeno eu procura proteger-se e entregar-se à solidificação - ou à petrificação - de si mesmo, ou, aceitando a morte, abandona-se ao sopro do vento, tornando-se vento com o vento, espírito com o espírito.

4 comentários:

  1. Há uma velha história sobre o espírito oriental e o ocidental que diz que o Oriente é como o salgueiro, que se dobra ao vento e sobrevive e uma árvore, não me recordo o nome, que simboliza o Ocidente, hirto e extático e que por isso tem mais dificuldade em sobreviver...

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    1. Curiosamente o Ocidente sempre se sentiu atraído pelo Oriente. De tal forma que a sua religião veio do Médio-Oriente. Seja como for, se o Ocidente não aprender a arte de se tornar "salgueiro", então terá poucas possibilidades de sobreviver enquanto cultura com um papel a desempenhar no plano mundial.

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  2. Creio que o engenho e arte será a simbiose do Oriente e do Ocidente...num plano ideal os Portugueses têm feito por isso. Sabe que o Oriente também anseia pela árvore...recentemente falei com um professor macaense que dizia que ia colocar o filho de três anos numa escola privada portuguesa em Macau. Sabe por que razão? Porque o ensino chinês é claustrofóbico e não ensina os meninos a pensar...que os obriga desde os 3 anos de idade, nos infantários, a estarem sentados 4 a 5 horas por dia...será um outro Oriente, menos «salgueiro» do que aquele que falamos...

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    1. Talvez seja assim, mas os resultados do PISA mostram o contrário. As questões matemáticas mais complexas, que exigem conceptualização e criatividade, são respondidas por 30% dos alunos de Shangai, enquanto só 2% de americanos e 3% de europeus conseguem responder-lhes. O que me diz faz-me lembrar o eduquês e o pedagogês que estão presentes no nosso ensino. Não há pensamento nem criatividade sem uma grande disciplina pessoal.

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