Carolus Duran - Danaë (1900)
418. O
meu sexo brilha na boca do teu
O
meu sexo brilha na boca do teu,
cometa
sem nome e lâmpada sem luz,
um
rasto de poeira cósmica
que
te toca a pele e deixa a alma branca
na
verdura azeda dos campos de batalha.
Canto
o exercício do amor na solidão da alma
e
escuto o pulsar das estrelas
na
inquieta respiração dessas veias,
tintas
de azul, presas na astúcia do corpo:
lentamente
abre-se para o júbilo da água.
Os
dias em que a quietude anuncia o mistério,
a
cama de algas onde repousamos
perdidos,
esquecidos do nome e do amor.
O
meu sexo brilha na boca do mar
e
espera, onda a onda, o voraz desejo,
o
plâncton que te alimenta a carne
e
me inclina para a nudez desses seios:
esperam solitários a solidão de uma boca.
Todo
o amor brilha, abóbada constelada,
e
ergue uma silhueta de feno em terra de barro.
Trago
em mim o delírio de um céu desejante,
a
antiga e perfeita ordem do cosmos,
as
linhas circulares descritas pelos astros,
o
secreto bambolear do teu ventre
batido
pelas ondas selvagens da minha mão.