Rui Filipe, Baixa-mar, 1973 (Gulbenkian) |
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
Meditação breve (197) Realidade
sábado, 10 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (6)
Ana Maria Botelho, Le couple et l'instrument, 1980 (Gulbenkian) |
em silêncio, meditam cruéis
crimes.
A idade arrasta-os no rio
da memória, no mar do abandono.
As palavras usadas são
andrajos,
roupas gastas, metáforas
extintas
no vulcão desta língua, no fedor
com que corpos usados inda
falam.
Cada crime pensado abre ruas
onde passam memórias arrastadas
na corrente das águas quase mudas.
Andrajosas metáforas proclamam
o retorno dos mortos revestidos
por antigas palavras rasuradas.
Agosto de 2024
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
O sal do silêncio (116)
Marcelle Cahn, sem título, 1964 (Gulbenkian) |
terça-feira, 6 de agosto de 2024
Pintura e haikus (41)
António Areal, sem título, 1961 (Gulbenkian) |
Restos de memórias
flutuam num mar vermelho.
Mundos esquecidos.
domingo, 4 de agosto de 2024
Câmara discreta (22)
W. Eugene Smith, Steelworker, 1955 |
quinta-feira, 1 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (5)
Pierre de Chevannes, Jóvenes al borde del mar, 1879 |
uma mancha nas noites de
Agosto.
Dias deslizam nos dias, o sol vai,
vem,
inquieto, perdido no horizonte.
Relva verde desdobra-se no
olhar.
Onde eram cabanas acanhadas,
crescem casas de pedra, luz e sal.
Na memória, apenas sol e mar.
A miragem das horas carregadas
com o peso da água, com a cal
das manhãs que de súbito se
calam.
Cativei desses dias os rumores.
Raparigas despidas caminhavam
na rudeza do sol, presas ao mar.
Agosto de 2024
terça-feira, 30 de julho de 2024
A memória do ar (32)
Antoine Chintreuil, The Rain Shower, c. 1868 |
domingo, 28 de julho de 2024
Geometrias de fogo (32)
Fred Kradolfer, sem título, 1930 (Gulbenkian) |
sexta-feira, 26 de julho de 2024
Sonetos de Verão (4)
José de Almada Negreiros, sem título, 1941 (Gulbenkian) |
a certeza das tardes e das
noites?
Saberemos da Lua a aparência,
quando Julho progride na jornada?
Estações são mistérios ilegíveis,
pelos anjos escritas num
caderno
onde a luz resplandece e nos
cega,
onde a noite cintila no silêncio.
Raparigas perpassam nos meus
olhos,
trazem vestes de Estios muito
antigos,
eram jovens e belas na memória,
eram filhas dum tempo onde
Julho
refulgia nos seus olhos e ardia
na secreta paixão nos meus velada.
Julho de 2024
quarta-feira, 24 de julho de 2024
A sombra da água (32)
Henry Peach Robinson, Atlanta, 1896 |
segunda-feira, 22 de julho de 2024
O Espírito da Terra (32)
Nicolaus Schindler, Puszta-Motiv, 1908 |
sábado, 20 de julho de 2024
Sonetos de Verão (3)
Ana Hatherly, sem título, 1971 (Gulbenkian) |
O livor destes dias faz de
Julho
o mais ímpio dos meses de
Verão.
Claras nuvens no céu são o
prenúncio
do jardim onde as horas se
recolhem.
Escondeu-se o Sol e dardejou
sem clemência os homens impudentes.
Vozes clamam ao longe, fatigadas,
rasgam turvos silêncios em sua
dor.
Escondi o meu corpo na caverna
onde moram os sonhos e dormi,
esquecido dos dardos invencíveis.
É o áspero rumo que me leva
desta terra sem ruas, sem rumores,
ao local onde morre o Sol no
mar.
Julho de 2024
domingo, 14 de julho de 2024
Signo sinal 19. Diluição
Rui Filipe, Baixa-Mar, 1973 (Gulbenkian) |
sexta-feira, 12 de julho de 2024
Impressões 119. Self
João Dixo, Quem pinta, pinta-se, 1978 (Gulbenkian) |
quarta-feira, 10 de julho de 2024
Haikai do Viandante (437)
segunda-feira, 8 de julho de 2024
Micronarrativa (67) Cegos
Júlio Pomar, Cegos de Madrid, 1957-59 (Gulbenkian) |
sábado, 6 de julho de 2024
Sonetos de Verão (2)
António Dacosta, Sonho de Fernando Pessoa debaixo de uma latada numa tarde de Verão, 1982 (Gulbenkian) |
caiu lesto nas sombras da
cidade.
No silêncio das tardes
resplandece
luminoso o prenúncio da
revolta.
Tão pesado tributo enlouquece
quem do Norte partiu em busca
plácida
de outras terras sem gelo, de
eternas
noites cálidas, ricas em ardor.
Ocultaram-se os homens no
jardim
onde o tempo ameno abre os
braços
e mitiga a revolta dos perdidos
no frio fogo do Sul, na vã
loucura
de esperar salvação nesses
lugares
onde tudo se perde sem perdão.
Julho de 2024
quinta-feira, 4 de julho de 2024
O sal do silêncio (115)
Manuel Botelho, Areia e Sal - Igrejas Silenciosas, 1987 (Gulbenkian) |
sábado, 29 de junho de 2024
Meditação breve (196) Mão
Henry Moore, The Artist's Hand III, 1973 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 27 de junho de 2024
Sonetos de Verão (1)
León Kossoff, Demolition of the Old House, Dalston Junction, Summer, 1974 |
Esqueci os amores de Verão.
Esqueci vendavais e noites quentes.
No oceano está presa a memória
dos incêndios bravios da vida rude.
Oiço o leve bater das horas idas
na janela aberta destes dias,
casa branca agora desprezada,
onde ardia o fogo da esperança.
Oiço a noite rugir na rua vazia
onde os passos que dei ainda ecoam
como sinos feridos na montanha.
Animal sem morada nem destino,
animal sem a luz de cada dia,
abro as mãos e no vento oiço o Estio.
Junho de 2024
terça-feira, 25 de junho de 2024
A memória do ar (31)
Yale Joel, People and vehicles moving about city shrouded in fog. Paris, 1948 |
domingo, 23 de junho de 2024
Geometrias de fogo (31)
Hubert Robert, Roman Ruins, 1773 |
terça-feira, 18 de junho de 2024
Sonetos de Primavera (12)
Ernst Ludwig Kirchner, Fehmarn House, 1908 |
Partirás,
Primavera, apressada.
O
teu noivo espera-te na casa
de
onde não voltarás para rever
a
luz do dia e o frio negro da noite.
As
flores que trouxeste definharam.
Nos
rios, bravias águas adormecem.
São
corcéis sem fulgor, velhos amantes
perdidos
no cansaço do amor.
Jamais
retornarás, mesmo se o tempo
trouxer
nova vitória sobre a noite
do
negro Inverno que virá.
Fantasia
e fulgor, novos amantes
encontrarão
a luz de um desejo
que
outra Primavera soltará.
Junho de 2024
domingo, 16 de junho de 2024
A sombra da água (31)
Bernardo Marques, Tejo (Gulbenkian) |
sexta-feira, 14 de junho de 2024
O Espírito da Terra (31)
Fernando Pissarro Gambôa, Terra Perdida IV, 1982 (Gulbenkian) |
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Sonetos de Primavera (11)
Mimi Fogt, Spring Time - Serra de Sintra, 1979 (Gulbenkian) |
Na
cilada das ruas, sol ardente
traça
lagos de luz, terras de fogo,
um
mundo no bulício da manhã.
O
espírito canta, é um pássaro.
Tudo
na Primavera dissimula
o
Verão que virá com a sua corte
ouvir
velhas canções de sal e sombra,
para
despertar almas sonolentas.
Ébrio,
bebo a luz, como o fogo,
e
canto, sou um pássaro do Sul,
perdido
entre ruas e desejos.
O
Verão arde puro nos lugares
onde
a Primavera se esconde
e
em mim canta odes e canções.
Junho de 2024
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Câmara discreta (21)
Charles Clifford, The Armor of Philip III, 1866 |
sábado, 8 de junho de 2024
Pintura e haikus (40)
Francisco Tropa, sem título, 2014 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 6 de junho de 2024
Histórias sem nexo 31. Tradições
Eduardo Nery, Estrutura Ambígua IV, 1969 (Gulbenkian) |
terça-feira, 4 de junho de 2024
Sonetos de Primavera (10)
João Queiroz, sem título, 1999 (Gulbenkian) |
Morre a Primavera no calor
desvairado de Junho, nestes dias
sem nome, sem grandeza, nesta hora
onde os anjos se calam temerosos.
Em silêncio, o sol chegou irado,
exausto pelos dramas concebidos
na caverna escura onde o mal
germina como erva impiedosa.
Retiram-se os anjos para longe,
procuram o jardim onde as águas
correm entre a noite e a luz.
A cidade esconde-se nas sombras,
enquanto o mal trabalha sem sossego,
invade as avenidas, nasce o caos.
Junho de 2024