Abel Manta, Jogo de damas, 1927 |
Ela
estava na sala de jogos do clube. Deve conhecer esse género de instituição de
província. Nunca a vira ali. Não foi uma súbita atracção. Entrou vagarosamente no
meu círculo. Um dia, estarão a fazer cinco anos, virou-se para mim e, olhando
para o tabuleiro de damas, perguntou-me se sabia jogar. Respondi que sim, tinha
até vencido vários torneios. Óptimo, disse, vamos jogar. Qual será o prémio,
perguntei. Se ganhar, casarei consigo. Apaixonei-me por ela nesse momento. Começou
então o meu suplício. Todos os dias ela joga uma partida comigo. Além de mim,
ainda defronta mais meia dúzia de pretendentes, a quem fez a mesma promessa. O
que me mantém vivo é ela continuar solteira.