quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Os alegres cantores

Lucien Aigner, Paris, 1930
Primeiro, comiam e bebiam. Depois, bebiam e conversavam. De seguida, bebiam apenas. Por fim, cantavam estranhas canções e riam. Via-os todos os dias. Quando o concerto acabava, sempre com um Hosana, iam-se embora, em fila encabeçada pelo mais jovem Desapareciam do meu horizonte. Foram anos a fio. No dia em que começou a segunda guerra, não vieram. Nunca mais voltaram. O enigma nunca deixou de me atormentar. Quem seriam? Cheguei a imaginar que eram anjos, mas sou destituído de fé e acabo sempre por sorrir da conjectura. Por vezes, porém, oiço os seus cânticos. Nos dias em que a existência me é mais insuportável, as suas vozes descem sobre mim. Respiro fundo e a vida continua. 

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