Querubim Lapa, Bar, 1946 |
Frequentava
um bar onde existiam raparigas para dançar com os clientes. Havia uma, esquiva
e enigmática, que me fazia arder de desejo. Dançava apenas e nunca permitia sequer
que a olhassem nos olhos. Ao contrário das outras, nunca saía acompanhada. Uma tarde,
os seus olhos pousaram nos meus. Quase ceguei. Quando saiu, aceitou a minha companhia.
Propus-lhe que viesse a minha casa. Anuiu. Mal fechei a porta, beijei-a. Entregou-se
com volúpia aos meus lábios. Enquanto dançávamos, despia-a. Ao cair a última
peça, descobri que não houvera corpo algum dentro daquela roupa. Nunca soube
que lábios beijei ou que olhos me queimaram as entranhas. Uma voz dizia, diz
ainda: eu sou a tua loucura.