domingo, 26 de julho de 2020

O mordomo

Susan Rothenberg, Half and half, 1985-87
Chamávamos-lhe o mordomo, não por chiste, mas porque se apresentou assim. Quando voltou do estrangeiro, após reformar-se, ninguém o reconheceu. As maneiras que adquirira estavam nos antípodas das que levara daqui. Contava muitas histórias. Tinha servido uma condessa, onde fizera a formação, dizia, e depois um casal de artistas de Hollywood. Cultuava-os a ambos. Sempre pensámos que eram mentiras. Um dia, porém, chegaram aqui, à aldeia, a condessa e o casal de artistas. Ao vê-los, ficou em pânico. A quem servir agora? Foi aí que descobrimos o seu génio. Dividiu-se em dois. O tronco e a cabeça serviam os artistas, a parte debaixo, a condessa. Só nessa altura acreditámos que ele fora realmente um mordomo. 

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