quinta-feira, 23 de julho de 2020

A sonhadora

Imogen Cunningham, The Dream, 1910
Sentava-se todos os dias na mesma cadeira. Voltada para trás, segurava-se ao encosto e fechava os olhos. A luz lateral iluminava-lhe parte do rosto. Passada uma hora, levantava-se e saía. O que se passava nela não sei. Posso conjecturar, mas uma boa conjectura é mais autêntica que uma descrição factual. Sonhava. Sonhava sempre o mesmo sonho, não numa pura repetição do mesmo, mas como aquelas pessoas que se aventuram numa gruta inexplorada. Cada dia vão um pouco mais longe, antes de voltarem para o ar livre. Era assim que ela sonhava. Um dia, porém, não voltou do sonho. Perdeu-se nele e não tornou a levantar-se. Está ali há décadas. Espera por quem a traga para fora da gruta que sonhou. [23/7/2020]

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