Júlio Resende, Jogar às Damas, 1945 |
O que afligia o taberneiro era eles nunca beberem vinho. Não
é que não fizessem despesa. Eram até clientes melhores que todos os outros, mas
o seu negócio era vender vinho e eles acabavam por desprezar aquilo para que
vivia. Chegavam à taberna, sentavam-se diante do tabuleiro e jogavam damas durante
duas horas. Todos os dias. Bebiam café e refrigerantes. Comiam sempre qualquer
coisa. Eram parcos em palavras, mas não hostis. Os jogos entre eles eram
épicos. Tinham uma concentração enorme que os raptava do que se passava ao redor.
Chegada a contenda ao fim, despediam-se e saíam. Não havia noite em que não
fossem encontrados completamente embriagados, arrastando-se pelas ruas da
aldeia.