Saul Leiter, Carol Brown in “Harper’s Bazaar”, c.1958 |
Dir-lhe-ia
que é vítima da ilusão cartesiana. A verdade não reside naquilo que é claro e
distinto. Não apenas a verdade, também a felicidade habita o indistinto, o que
é turvado pela sombra. A minha mulher, lembra-se dela, variava no grau de definição
com que se apresentava perante mim e o mundo. Alturas havia em que era demasiado
obscura, a sua presença suscitava melancolia e piedade. Normalmente, o
que me tornava particularmente feliz, ela era apenas difusa, não havia nela nem
obscuridade nem clareza. Só isso permitiu que a amasse. Um dia, porém, apresentou-se
diante de mim clara e distinta. Resplandecia. A sua presença era tão intensa
que explodiu. Não tornei a casar.
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