André Masson- Alegoria (1935)
Platão recorre a alegorias, Cristo a parábolas. Tem-se a sensação que a linguagem comum, ou mesmo a linguagem unívoca utilizada na ciência, é impotente para exprimir a verdade. Seria um problema da linguagem e dos seus limites que conduziria à necessidade do uso deste tipo de figuras linguísticas. Pode haver, todavia, uma outra abordagem da questão. Podemos pensar que a forma como concebemos a realidade é já ela alegórica, que as nossas representações da realidade são verdadeiras parábolas. Por que motivo se usará, então, as alegorias e as parábolas se tudo o que concebemos como realidade é já alegoria e parábola?
Se pensarmos a alegoria e a parábola não como revelação de uma verdade mas como a criação de uma tensão, poder-se-á encontrar uma chave para o problema. O que está e causa é criar, através da tensão que as alegorias e as parábolas ditas ou escritas criam ao confrontarem as alegorias e parábolas com que representamos a realidade, um espaço vazio onde o espírito possa, em liberdade, mergulhar e encontrar um caminho para a verdade. A verdade não está nem na representação da realidade nem oculta na alegoria e na parábola, mas no vazio - onde a linguagem está suspensa assim como a representação do real - que o choque cria para que o espírito nele mergulhe.