Laszlo Moholy-Nagy - Homem Sentado (1919)
São assim os meus dias. Levanto-me e, como uma sombra, saio de casa. Vagueio pelas ruas e sinto-me desencarnado. Tento ver-me no reflexo das montras e não encontro a imagem do meu corpo. Perplexo, volto para casa. Sento-me e leio. A vida começa nesse momento. A realidade? Valerá a pena disputar sobre o que é a realidade? Não, claro que não. Os meus olhos caem sobre as palavras e o mundo desenrola-se dentro de mim. Uma ilusão? Já não tenho idade para me iludir. Limito-me a descrever o que se passa. Os meus olhos recebem as palavras. Chegadas a mim, transformam-se, ganham densidade, tomam carne. O meu corpo anima-se, participa nas peripécias da história que leio. As horas passam. Por vezes, olho o espelho ao fundo. Ele devolve de imediato a minha imagem. Sorrio triunfante. Baixo os olhos e continuo a ler.
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