sábado, 12 de março de 2016

Improvisação da morte

Wassily Kandinsky - Improvisation (1909)

Tremi ao tocar os lençóis frios. E se não sonhar esta noite, pensei, haverá ainda um amanhã? Deslizei para dentro da cama, apaguei a luz. Na consciência, improvisei imagens vívidas, tão opostas à frugal brancura do hotel onde me hospedara. Cavalgava em direcção a um castelo, o vento na face, o odor do animal. Adormeci, por certo. Quanto tempo? Nunca o saberei. Ao acordar, o quarto e o hotel tinham desaparecido. Ergui-me do chão de terra batida. Eram ruínas de um velho castelo. Senti uma vertigem. Aos meus olhos, desenrolava-se uma terrível batalha medieval. No meio do combate, reconheci-me, deitado por terra, trespassado por uma lança, esquecido na morte. 

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