António Sena, Lèvres errentes sur la mer, 1983 (Gulbenkian) |
De súbito as ondas
saltam da boca do mar.
Fome e tempestade.
António Sena, Lèvres errentes sur la mer, 1983 (Gulbenkian) |
De súbito as ondas
saltam da boca do mar.
Fome e tempestade.
Amadeo de Souza-Cardoso, sem título, 1915 (Gulbenkian) |
Artur Bual, Hoje VI, 1965 (Gulbenkian) |
António Areal, Opus n.º 59, 1963 (Gulbenkian) |
John Ruskin, A River in the Highlands, 1847 |
Daniel O'Neill, Returning home, 1956 (Gulbenkian) |
Ana Hatherly, Palma de Maiorca, 1958 (Gulbenkian) |
Sob o céu cinzento
paisagens de azul e verde.
Árvores e vento.
Camille Corot, Italian lanscape near Marino in Autumn, 1826-27 |
germinou a semente do outono
as folhas caem
um frémito na fronteira da
tarde
vieram intermitentes as chuvas
tocam as ruas da cidade
abrem sulcos no cenário da
memória
uma música estelar desprende-se
da harmonia dos céus
ilumina o silêncio da alma abandonada
Outubro de 2024
Candido Portinari, Fumo, 1936 (Gulbenkian) |
António Soares, sem título, 1940 (Gulbenkian) |
Gregorio Prieto Muñoz, Aranjuez, 1918-1919 |
deixo-me levedar ao sol da manhã
cresço para o esquecimento
ou para a vereda da eternidade
a música das glicínias abre o
jardim
caminho ao ritmo das flores
e bebo a água azul dos poços
os dias são agora uma oração erguida
sobre os abismos da noite
e os sonhos cegos da madrugada
Outubro de 2024
Carlos Calvet, sem título, 1967 (Gulbenkian) |
Alfred Eisenstaedt, Couple in Penn Station sharing farewell embrace before he ships off to war during WWII, 1943 |
Fernando Calhau, sem título #375 (Gulbenkian) |
Ralph Gibson, The Sketch, 1975 |
Caspar David Friedrich, Autumn, 1826 |
são os silêncios do outono
a súbita água
na ânsia da aurora
folhas despedem-se
do rumor dos ramos
abrem-se no húmus da terra
os pássaros partiram para o sul
levam na vertigem do voo
a sombra do verão
Outubro de 2024
E. F. Withmore, Black Brook Notch, 1890 |
Van Gogh, Pollard Willows with Setting Sun, 1888 |
Luís Noronha da Costa, Mar Português, 1982 (Gulbenkian) |
Maria Benamor, A Memória e o Sonho, 1971 (Gulbenkian) |
José Júlio Andrade dos Santos, Paisagem (A Cidade Branca), 1951 |
Uma cidade parada sob a noite, maculada pelas sombras que lhe trarão o negro dos sonhos e a ânsia pelo despontar da aurora, para que, rua a rua, casa a casa, recupere a brancura ancestral, a pureza de virgem que o passar do dia ocultou no véu lutuoso de um crepúsculo moribundo.
Carlos Calvet, sem título, 1967 (Gulbenkian) |
Regressou de rompante o Verão.
Crescem fogos, florestas a
arder
contaminam os corpos, e as
almas
frágeis urdem severos
desesperos.
Tudo arde na viva luz da tarde,
as imagens passadas resplandecem
no futuro a vir, no presente
ávido
de encontrar o caminho
destinado.
Um suspiro final, pura vingança
feita fogo e fumo, as frias
cinzas
do Outono a chegar enlouquecido.
Sem destino, os corpos em vão
buscam,
no incêndio da noite, as almas
puras
que lhes cabem na senda da
floresta.
Maio de 2024
Francis Smith, Largo de aldeia (Petite place au Portugal), 1954 (Gulbenkian) |