Susan Rothenberg, Half and half, 1985-87 |
Chamávamos-lhe
o mordomo, não por chiste, mas porque se apresentou assim. Quando voltou do
estrangeiro, após reformar-se, ninguém o reconheceu. As maneiras que adquirira
estavam nos antípodas das que levara daqui. Contava muitas histórias. Tinha
servido uma condessa, onde fizera a formação, dizia, e depois um casal de
artistas de Hollywood. Cultuava-os a ambos. Sempre pensámos que eram mentiras.
Um dia, porém, chegaram aqui, à aldeia, a condessa e o casal de artistas. Ao
vê-los, ficou em pânico. A quem servir agora? Foi aí que descobrimos o seu
génio. Dividiu-se em dois. O tronco e a cabeça serviam os artistas, a parte
debaixo, a condessa. Só nessa altura acreditámos que ele fora realmente um
mordomo.