Imogen Cunningham, The Dream, 1910 |
Sentava-se todos os dias na mesma cadeira. Voltada para
trás, segurava-se ao encosto e fechava os olhos. A luz lateral iluminava-lhe
parte do rosto. Passada uma hora, levantava-se e saía. O que se passava nela
não sei. Posso conjecturar, mas uma boa conjectura é mais autêntica que uma
descrição factual. Sonhava. Sonhava sempre o mesmo sonho, não numa pura repetição
do mesmo, mas como aquelas pessoas que se aventuram numa gruta inexplorada. Cada
dia vão um pouco mais longe, antes de voltarem para o ar livre. Era assim que
ela sonhava. Um dia, porém, não voltou do sonho. Perdeu-se nele e não tornou a
levantar-se. Está ali há décadas. Espera por quem a traga para fora da gruta
que sonhou. [23/7/2020]