sábado, 17 de novembro de 2012

Caminho de sabedoria

Marcel Duchamp - Étant donnés: 1º la chute d'eau, 2º le gaz d'éclairage (1946-66)

A experiência da porta é uma das mais essenciais na viagem. Cada porta representa um enigma, mas também um desafio e uma possibilidade. O viandante faz a experiência do limiar, desse não estar dentro nem fora, sente a perplexidade por estar prestes a deixar o conhecido e entrar no desconhecido. É neste desconhecido que está o enigma, o desafio e a possibilidade. Quando se chega a uma porta fechada é porque todas as possibilidades anteriores estão consumadas e um instinto certeiro nos conduz aquele limiar. Perplexo, o viandante sente o coração dividido entre o conhecido e realizado e o não pensado, o não sabido, o não realizado. Naquele instante, a viagem pode terminar ou, então, ganhar sentidos inesperados, pois novos possíveis se escondem atrás da porta. Tudo depende do viandante, da sua disposição, da atracção que ele permite que o atinja vinda do outro lado da porta. Um livro, um quadro, uma pessoa, uma situação. Tudo isso pode ser uma porta, isto é, um enigma, um desafio e um possibilidade que chama por nós. A sabedoria está em discernir, no caminho, que portas devemos abrir e aquelas que devemos passar ao largo. Um caminho de sabedoria é aquele que é feito de porta em porta, um caminho singular e intransmissível.

4 comentários:

  1. De imediato fui parar, mentalmente, ao sufocante universo do "Hui Clos", mas abrandei e fui ao beber à sabedoria popular, onde se fecha uma porta, abre-se sempre uma janela.
    Como sempre, obrigada por inquietar.
    Bom Dia.

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  2. Não, de facto, o Hui-Clos é uma figuração do inferno, mas estas portas não têm de abrir directamente para lá. Isso, porém, não quer dizer que ele não esteja lá. Uma porta fechada nunca deixa de ter a sua ambiguidade.

    Boa tarde.

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  3. Ando numa viagem sem rumo. Vagueio na blogosfera.

    Cheguei aqui. Parei. Gostei.
    Vou ficar.

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