Vincent Van Gogh - O bom samaritano (1890)
Qual destes três (o sacerdote, o levita e o samaritano) te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? (Lucas 10:36)
Esta pergunta dirigida a um doutor da Lei vem na sequência da parábola do bom samaritano (ler aqui, vv. 25-37). Esta é suscitada pela interrogação do doutor da Lei Quem é o meu próximo? A resposta é vista como a construção de um modelo de compaixão. Contudo, para além das benfeitorias realizadas, o texto fornece uma antítese prática que baliza o modo de agir perante o outro. Afastamento ou aproximação. O meu próximo é aquele de quem me aproximo, de quem não me afasto. Isto significa que o próximo não é estipulado pelas estruturas sociais, como a família, a classe social ou casta a que se pertence, ou pelas convenções diferenciadoras dos homens. O próximo é o desígnio da minha liberdade, do meu livre-arbítrio que me permite aproximar-me do outro (como o samaritano) ou afastar-me (como o fizeram o sacerdote e o levita).
O próximo é a obra da minha liberdade, mas também daquilo que inclina a minha liberdade para me aproximar e não para me afastar. Quando no versículo 33 (10:33) Lucas escreve Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão, não é a compaixão que é central. A compaixão é já o resultado de algo mais fundamental, é o fruto daquilo que se manifesta na expressão vendo-o. No verbo ver ressoa a abertura ao outro - pois a visão, como os outros sentidos, são uma abertura para o exterior - e no pronome pessoal o expressa-se o acto de reconhecimento. O próximo é, deste modo, o fruto de uma liberdade que se abre ao reconhecimento do outro, e nesse reconhecimento dissolve fronteiras e diferenças que os mecanismos sociais estabelecem e petrificam, gerando o afastamento, a indiferença e a negação do reconhecimento do outro, do outro que sofre.
Esta pergunta dirigida a um doutor da Lei vem na sequência da parábola do bom samaritano (ler aqui, vv. 25-37). Esta é suscitada pela interrogação do doutor da Lei Quem é o meu próximo? A resposta é vista como a construção de um modelo de compaixão. Contudo, para além das benfeitorias realizadas, o texto fornece uma antítese prática que baliza o modo de agir perante o outro. Afastamento ou aproximação. O meu próximo é aquele de quem me aproximo, de quem não me afasto. Isto significa que o próximo não é estipulado pelas estruturas sociais, como a família, a classe social ou casta a que se pertence, ou pelas convenções diferenciadoras dos homens. O próximo é o desígnio da minha liberdade, do meu livre-arbítrio que me permite aproximar-me do outro (como o samaritano) ou afastar-me (como o fizeram o sacerdote e o levita).
O próximo é a obra da minha liberdade, mas também daquilo que inclina a minha liberdade para me aproximar e não para me afastar. Quando no versículo 33 (10:33) Lucas escreve Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão, não é a compaixão que é central. A compaixão é já o resultado de algo mais fundamental, é o fruto daquilo que se manifesta na expressão vendo-o. No verbo ver ressoa a abertura ao outro - pois a visão, como os outros sentidos, são uma abertura para o exterior - e no pronome pessoal o expressa-se o acto de reconhecimento. O próximo é, deste modo, o fruto de uma liberdade que se abre ao reconhecimento do outro, e nesse reconhecimento dissolve fronteiras e diferenças que os mecanismos sociais estabelecem e petrificam, gerando o afastamento, a indiferença e a negação do reconhecimento do outro, do outro que sofre.