domingo, 24 de novembro de 2013

O escárnio do homem

Emil Hansen - O escárnio de Cristo

Na cena onde Cristo, no seu caminho para a cruz, é vítima de escárnio não encontramos apenas a referência a um acontecimento singular da história inaugural de uma certa religião. Encontramos simbolizada a atitude do homem comum por tudo o que é essencial na humanidade. A radicalidade do cristianismo tem esse estranho poder de suscitar, na vulgaridade que todos trazemos em nós, a necessidade de a defender e, por esse motivo, apoucar o fundamental, tentar torná-lo risível e, devido a essa risibilidade, entregá-lo à morte. O risível objecto de escárnio, que a cena crística simboliza, não é o ridículo das nossas pretensões, mas as nossas possibilidades mais autênticas, a verdade que se esconde no fundo do coração do homem.

sábado, 23 de novembro de 2013

A configuração de si

Albert Gleizes - Figura (1914)

Talvez toda a viagem - e a viagem não é outra coisa senão a vida - a que o viandante se propõe seja um trabalho de configuração. Configurar significa dar forma a qualquer coisas, dar-lhe, literalmente, figura. Ao avançar na via, ao inventar a senda por onde caminha, o viandante está, muitas vezes sem o saber, a traçar uma figura, a configurar. A configurar o quê? Ao caminhar o viandante tece a sua própria figura. Não aquela que ele imaginou ser a sua, nem aquela que ele desejou que fosse, mas a que o caminho - com as suas graças e, também, as suas desgraças - lhe impôs. A figura que a sua liberdade se destinou a traçar para si.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Poemas do Viandante (439)

William Congdon - Winter (1950)

439. abro a mão para o gesto sobre o mar

abro a mão para o gesto sobre o mar
oiço as ondas romper o matagal
ervas brancas batidas pelo vento

inverno, frio inverno, sol e sombra
água nas ruas, murmúrios, labaredas
a velha servidão negra e cansada

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O inverosímil do amor

Nicolás de Lekuona - Amor inverosímil (1932)

A expressão amor inverosímil capta aquilo que é mais surpreendente no amor. Que ele toque a espécie humana é, olhando para os negócios o mundo e da vida social, o que há de mais inverosímil sobre a terra. É tão inverosímil que a própria razão se sente derrotada e, na surpresa dessa presença, confessa que há nele, no amor, mais do que o homem lá pode colocar. O amor é inverosímil porque nele o sobre-humano se revela na estreiteza egoísta desse animal a que chamamos homem.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O sonho da harmonia

Paul Signac - Au temps d'harmonie (1894)

Talvez o maior anseio do coração do homem, mesmo daquele que se transviou por complete das normas da sociabilidade humana, seja o retorno a uma vida de harmonia, o retorno ao paraíso perdido. A modernidade sonhou, através das diversas utopias que foi criando, esse paraíso. Sonhou-o de forma impaciente e febril, sonhou-o como se ele dependesse do engenho e da indústria dos homens. Esse sonho tornou-se pesadelo. As utopias deram lugar a distopias e a harmonia sonhada, aos piores conflitos da triste história humana. Talvez a harmonia não seja algo que caiba ao homem, talvez, e em alternativa, o caminho para esse harmonia não passe pelas realizações exteriores, mas pela procura de um centro interior onde entremos em harmonia connosco e, a partir daí, com os outros.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Da natureza dos eclipses

Albert Bloch - Eclipse azul (1955)

Na verdade, um eclipse não é, para nós homens, essencialmente um acontecimento astronómico onde a luz de um astro é ocultada pela interposição de outro. Um eclipse é o símbolo da condição humana, da situação do homem na Terra. Entre o homem e a Luz há sempre a interposição de qualquer coisa. E o eclipse é tão continuado que o homem chega a pensar que a Luz não existe.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Haikai do Viandante (167)


Um céu de gaivotas
cobre de cinza e chumbo
as ondas revoltas.

domingo, 17 de novembro de 2013

A libertação do destino

Raquel Forner - Destinos (1939)

Se o viandante se põe a caminho não é para cumprir um destino ou para certificar a inexorabilidade de um fado. Não, o pôr-se a caminho do viandante visa enfrentar o destino e dissolver a fatalidade. A vida espiritual é a aprendizagem íntima de ser livre, a conquista da liberdade. Não da mera liberdade social, mas da liberdade que nasce da emancipação da fria e cruel necessidade, que nasce da libertação de todos os fados e de todos os destinos.

sábado, 16 de novembro de 2013

Temor, respeito e amor

Egon Schiele - Cidade amarela (1914)

Em certa cidade, havia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. (Lucas, 18:2)

A frase de Lucas - frase que ele põe na boca de Cristo - traça a visão tradicional do fundamento das sociedades. Por ordem de importância e eficácia sociais, a justiça fundar-se-ia, então,  no temor do absoluto, nível metafísico, e no respeito pelo outro, nível moral. Para além disto, nesse plano comunitário, resta o arbítrio do poder e a violência da política. 

Mas para cada homem, na sua singularidade e no caminho que deve consumar o seu destino, o respeito moral e o temor metafísico são ainda obstáculos. Deixados como único elemento da experiência, reduzem o homem a membro do rebanho, um cego guiado por outros cegos. Aquilo que é fundamental deixa-se descrever melhor pela palavra amor do que pelos termos respeito e temor. Todavia, estamos ainda muito longe de compreender o conteúdo que se oculta numa palavra tão banalizada como é "amor".

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sem herança

Aurelio Arteta - Quatro gerações

Na sucessão de gerações, nós podemos medir o progresso material e até moral da humanidade. Mas estamos ainda num nível superficial daquilo que é o mais importante. O nascimento da vida espiritual, a abertura para o mistério do ser, o caminho para a realização de si mesmo, tudo isso se passa a um nível diferente. São assuntos que dizem respeito ao indivíduo, à singularidade da sua vida e da sua experiência. Os avanços de um não são transmissíveis para o seu filho, mesmo este seja apenas aquilo a que se convencionou chamar filho espiritual. Na vida do espírito não há herança pronta a desfrutar. A única herança é a indicação de que cada um tem de fazer o seu caminho pessoal e único.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O corpo solitário

Mario Sironi - Solidão (1925-26)

Não é na face que apreendemos a solidão. No rosto, podemos descobrir a amargura, o desespero e, acima de tudo, o ressentimento para com a vida. Mas amargura, desespero e ressentimento ainda são formas comunicacionais, ainda pressupõem um outro a quem se dirigem, seja como censura, seja como pedido de auxílio. O corpo, porém, é o lugar da solidão, onde ela se manifesta e se torna dor. A dor de não ser partilhado.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Uma metafísica do corpo

Lucien Freud - Benefits Supervisor Sleeping (1995)

A pintura de Lucien Freud é contemporânea de uma exacerbada esteticização do corpo humano, esteticização que é uma das manifestações centrais do contemporâneo culto do corpo. Muitos dos nus de Freud, mesmo aqueles que retratam pessoas cujo corpo está mais em conformidade com a norma aceite, provocam no espectador um sentimento de desconforto ou mesmo de desagrado. Esta contra-idealização do corpo - encontramo-la também, ainda que de forma bem diferenciada, em pintores anteriores como Egon Schiele - devolve-nos a uma questão central. Essa não é a que parece mais óbvia. Óbvio seria perguntar como deve ser o corpo. Qual a norma? Mas a pintura de Lucien Freud questiona a própria ideia de norma. O que emerge é uma dupla pergunta. O que é o corpo? O que significa ter um corpo? A pintura de Freud abre-nos, assim, não para uma física idealizada e normativa, mas para uma metafísica do corpo, para uma investigação sobre o mistério da encarnação.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A falta e o excesso

Tamara de Lempicka - The Blue Virgin (1934)

Em Blue Virgin, o estranho quadro de Tamara de Lempicka, encontramos uma meditação sobre a essência da virgindade, daquilo a que se poderia chamar uma vida consagrada. Não é a recusa de uma experiência sexual nem de abertura ao mundo o que está em causa. É antes a afirmação de uma plenitude que existe em si mesma. O recolhimento que vemos não é negação do exterior, mas afirmação pletórica da vida interior, de uma experiência superabundante que, por não necessitar da exterioridade, ganha uma luz própria capaz de iluminar essa mesma exterioridade. O que observamos no quadro não é a falta, mas o excesso.

domingo, 10 de novembro de 2013

Haikai do Viandante (166)


Rocha silenciosa,
aberta para o  segredo
que se abre na terra.

sábado, 9 de novembro de 2013

Diálogos sobre a morte

Karl Schmidt-Rottluff - Conversation on Death (1920)

Poder-se-á falar num diálogo sobre a morte? Platão, no Fédon, colocou a discussão sobre a imortalidade no dia em que Sócrates é executado. Não se tratou de um efeito cénico ou de uma estratégia retórica. Foi, antes, a constatação de que mesmo que se queira falar da morte, só é possível falar da vida, pois, em si mesma, a morte é destituída de sentido . Só a vida lhe dá um sentido e um horizonte.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Poemas do Viandante (438)

Ferdinand Hodler - O dia (figura) (1899)

438. A volúpia de um sonho na manhã

A volúpia do sonho na manhã
abre um caminho de luz
na cama desfeita da noite.

A floresta espera o teu rosto,
o sagrado bulício do silêncio,
a chama do nome que te deram.

Conto as horas que faltam,
suspiro com o vento na ramagem,
brilho se o sol cai em mim.

Sentado sob a copa do outono,
espero que chegues,
um rumor de passos na terra.

Uma sombra toca-me ao de leve.
Trémulo, volto-me para
o prodígio do teu corpo na erva.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Tempo de Outono

Ernst Ludwig Kirchner - Sertigtal im Herbst

São as horas de recolhimento, de meditação sobre o caminho percorrido, de alegria profunda pela multiplicidade de cores que cobrem a natureza. São cores da morte, dir-se-á. Não, são cores da vida, desse estranho mistério que contém dentro de si a própria morte. São cores que chamam pelo pensamento, pela hora da renúncia, pelo desejo de retomar a viagem sem fim.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Bezerro de ouro

Emil Nolde - Dance Around the Golden Calf

Mais que descrição factual, a história do bezerro de ouro é símbolo eterno da nossa venalidade. Frágeis, os homens rapidamente trocam o seu caminho, aquilo que, no segredo do seu coração, chama por eles, pela adoração do bezerro de ouro. E nunca como hoje o bezerro de ouro esteve tão presente no mundo.

sábado, 2 de novembro de 2013

A verdadeira herança

Alejandro Mesonero - Deserdados

O que leva o Viandante ao seu caminho, à busca daquilo que chama por ele? Talvez seja o sentimento de ser um deserdado da terra. Ser deserdado significa que foi excluído de um bem que, por via da filiação, lhe deveria pertencer. Mas não é essa exclusão que move quem se põe a caminho. É uma exclusão muito mais funda e radical. É a súbita percepção de que todos os bens que poderia herdar ou adquirir são irrelevantes e não são mais do que poeira que se dissolve no horizonte. Essa hora de decepção leva ao desejo de encontrar aquilo que lhe cabe, a sua verdadeira herança, a prova da sua filiação. É a voz dessa herança, o sentimento de um vínculo, que chama pelo Viandante e o põe a caminho e no caminho.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Haikai do Viandante (165)


pedra sobre pedra
uma imagem do passado
a glória da terra

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Autoridade espiritual e poder temporal

Albert Gleizes - Autoridade espiritual e poder temporal (1939-40)

Ao considerar a velha expressão autoridade espiritual e poder temporal no âmbito da divisão das funções de governo do mundo perde-se aquilo que ela diz em si e por si mesma, para além das esferas privadas da religião e da política. O poder, pela sua natureza temporal, traz em si a marca da sua finitude. Todo o poder é temporal e, por isso mesmo, temporário. O que marca o espírito é, por seu turno, a autoridade e nesta o que está a ser pensado não é o mando ou a ordenação, a não ser como sentido derivado, mas a autoria. O espírito é autor e é nessa e dessa autoria que tem e lhe advém a autoridade. O poder é sempre caduco, o espírito cria e cria-se continuamente.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Abrir a janela

Karl Schmidt-Rottluff - A Janela Aberta (1937)

A primeira etapa da viagem termina quando o viandante abre a janela e depara com o vasto mundo. Estranho que uma etapa termine quando ainda não se começou a andar, quando ainda não se saiu de casa. O dramático, porém, é que a generalidade da espécie humana, por muitas milhas que tenha percorrido, nunca sai da sua casa, desse lugar onde tudo se refere a si. Nunca sai de si e dos seus pequenos, por grandes que sejam, interesses. Abrir a janela é então a primeira e decisiva etapa, pois abrir a janela não é outra coisa senão o abrir-se ao acontecer e ao que, no devir, nos chama.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Poemas do Viandante (437)

Ferdinand Hodler - Emoção (1894)

437. O súbito alvor do anjo sobre a terra

O súbito alvor do anjo sobre a terra,
a memória branca descarnada da face,
água tépida onde exausta te olhas.
Figura de cera que jaz dentro de mim,
símbolo de fogo ao raiar do mundo,
a promessa duma vitória já perdida.

Desfolho o calendário e aguardo o dia,
aquela hora em que venhas branca e nupcial
resgatar do sonho o desejo que nele se esconde.
Que nome te darei quando tudo cessar,
e as trevas forem apenas o rumor do incenso,
o desenho enegrecido pela luz bravia do mar?

domingo, 27 de outubro de 2013

Um rasgão no véu

James Ensor - Calvário

Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. (Lucas 18:14)

Como, numa sociedade como a nossa, poderá ser recebida esta palavra de Lucas? Os tempos modernos têm na sua essência a exaltação do eu. Tudo está organizado para fortalecer e glorificar esse eu exaltado, um eu que, segundo o ethos moderno, deve seguir o seu interesse próprio. A própria medida do comportamento racional é-nos dada pelo acordo da acção com a defesa do interesse próprio. A humilhação do eu é, portanto, um desafio à lógica dos nossos dias, uma proposta que não pode ser olhada a não ser com desdém. Um escândalo, para retomar uma velha palavra. Mas não será o escândalo um rasgão no véu com que a realidade se cobre?

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (164)


Terra, pedra e fungos.
E do velho caos um deus
fez o novo mundo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O caminho mais rápido

Markus Luepertz - Composición en gris (2001)

Ao pôr-se a caminho, o viandante descobre que bússolas e mapas têm pouco préstimo. Corre o risco de ficar seduzido e começar a coleccionar velhas instrumentos de orientação ou novas cartas. Não quer dizer que, por vezes, não os use, pois têm sempre um efeito benéfico para o espírito. O caminho, porém, só ele o pode descobrir no instante em que, entregue àquilo que o chama, o vai traçando. Alguns têm caminhos rectos, outros oblíquos. Há, no entanto, aqueles para quem a viagem é feita por veredas emaranhadas, becos sem saída, caminhos que levam a lado nenhum.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O lugar abandonado

Carlo Carra - Casa Abandonada (1930)

Talvez os sítios abandonados tenham uma especial atracção sobre aqueles que estão em viagem. Não porque nesses sítios resida ainda um resto do espírito que os animou, mas porque um sítio abandonado simboliza ao mesmo tempo um lugar de acolhimento e a necessidade de continuar a jornada. Uma casa abandonada é um lugar onde se pode pernoitar, mas que na sua precariedade torna claro ao espírito a necessidade de partir.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sociedade e não comunidade

Niels Bjerre - A Prayer Meeting (1896)

Para nós que fomos educados numa cultura católica, este quadro do pintor dinamarquês Niels Bjerre tem qualquer coisa de inusitado. Aquelas pessoas encontram-se para uma oração, mas não estabelecem entre elas nenhum princípio de comunidade. Estão umas junto das outras, mas não estão umas com as outras. Seguem caminhos puramente privados. Mesmo a figura do Cristo na cruz não exerce qualquer poder congregador. No mundo católico, uma oração conjunta estabeleceria uma comunidade, uma comunhão. Se se tratasse de uma oração não comunitária, então o indivíduo oraria em solidão. No quadro de Bjerre, não temos nem comunidade nem solidão, mas uma sociedade de indivíduos privados que, ensimesmados, perseguem os seus interesses salvíficos individuais. O quadro de Bjerre permite-nos perceber muito bem o que é a versão protestante do cristianismo e, a partir dela, perceber a diferença radical que tem do catolicismo.

domingo, 20 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (163)


Um sulco de sangue
abre a porta do mistério
que a rocha encerra.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A rosa sem porquê

Agnes Martin - A Rosa (1964)

Die Rose ist ohne warum.
(A rosa é sem porquê.)
Angelus Silesius, CW I. 289

Lê-se o verso de Silesius (o hemistíquo) A rosa é sem porquê e fica-se fascinado. A tentação é de ver um artifício poético, talvez uma aproximação metafórica à sem razão da beleza. Mas devemos ler literalmente o que lá está. É a leitura literal que nos assusta. No verso diz que o porquê ou a razão não fazem parte do ser da rosa. O assustador está na emergência desumanizada da rosa. A razão e os porquês são a presença humana, do entendimento humano, nas coisas, uma forma de as submeter ao nosso espírito e integrá-las numa cadeia de explicações. Mas tudo isso, apesar de nos tranquilizar - pois dar uma razão tranquiliza-nos -, é estranho à rosa. A rosa é sem porquê é uma injunção a estar perto da rosa sem projectar nela os meus temores e, por isso, a minha racionalização. Estou perante aquilo que não posso explicar, que não tem explicação, que se perfila, na sua simplicidade de ser rosa, como um mistério para o qual a minha pobre razão não tem chave. A rosa sem porquê solicita a mais extrema pobreza de espírito.