quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Tens de voltar

Alfred Stieglitz, A Snapshot, Paris, 1911

Um acaso pode quebrar o feitiço que nos retém no presente. Um dia, vi-me perdido no meio de uma cidade onde todos se vestiam de forma estranha. Uma mulher, um rosto familiar, chamou-me a atenção. Cheguei à fala com ela. Perguntou-me a razão por que me vestia de modo tão inusitado e olhou-me com condescendência. Falou-me da família, da filha que tinha nascido no ano anterior. Disse o nome dessa filha e eu estremeci. Quis saber o local e data de nascimento, embora eu já o soubesse. Tinha-o escutado à minha avó, era a curiosa história do seu nascimento. Eu falava com a mãe dela, a minha bisavó que morreu trinta anos antes de eu nascer. Divertida, exclamou: conheci-te mal te vi. O tempo é uma ilusão, mas tens de voltar para a tua ilusão. 

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