Edvard Munch - Os solitários (1907)
As noites de Verão são propícias a acontecimentos singulares. Tão estranhos que aqueles que os vivem preferem esquecê-los. Também eu quis esquecer o que me aconteceu numa dessas noites de calor. Não fui, não sou capaz. Resignado, sento-me e deixo-me assaltar pela memória. Ela, que vi mil vezes na sua beleza vibrante, ali tão perto e tão tocável. Caminho ao seu encontro, o coração descompassa-se ansioso, um cão rosna ao longe, e a minha mão desce para o seu ombro, tão branco. Toco-lhe e sinto a pele a deslizar nos meus dedos. Ela vira-se lentamente. Ainda hoje não me atrevo a contar o que vi.