Pierre Bonnard - A casa de Misia (1906)
Foi na casa de Misia que a conheci. Quando chegava, ela já estava. Sentada, na varanda, lia em silêncio. Era frugal nas palavras. Se os encontros da tarde se prolongavam pela noite, ela excluía-se de qualquer animação. Olhava para todos nós, os seus olhos eram um incêndio contido. Com o tempo compreendi que ninguém lhe dirigia a palavra, mas não havia qualquer hostilidade. Apaixonei-me, confesso. Uma tarde, já ao crepúsculo, não me contive. Dirige-me a ela e perguntei-lhe o nome. De imediato, se desvaneceu. Senti uma mão no ombro. Era a dona da casa. Sorriu e disse-me: está na hora, Orfeu, de nos constares uma história.
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