quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Poemas do Viandante (67)

67. SE TE TOCO

Se te toco,
as cordas vibrarão

e na penumbra
o frio
faz-se luar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Poemas do Viandante (66)

66. MURMÚRIO

o murmúrio da folha ao cair
desenha um raio de luz

voz que me chama ao partir

O limite de mim

Por vezes sonho um corpo apenas para o poder desejar, e no desejo daquela pele ou de um olhar, saber-me na verdade do meu ser. À beira da falência, já sem margem ou âncora, o desejo do outro envia-me o limite de mim. Pudera eu perder-me ali e mais perto de me encontrar, ou de Te encontrar, talvez estivesse.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Poemas do Viandante (65)

65. EM VÃO

o ramo prende 
a mão

ferida aberta
no corpo

nele canto-te
em vão

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Poemas do Viandante (64)

64. ANJO

anjo perdido
na sombra 
da tarde

risco de terra
silêncio e mar

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Poemas do Viandante (63)

63. AMOR

o amor rufa
na noite

sombra de aço
toque de clarim

domingo, 29 de novembro de 2009

Caos

O caos é o símbolo do mundo. Mas não foi ao mundo que Ele enviou o Filho? Não foi nele, mundo, que o Filho peregrinou, mesmo que a sua peregrinação também tenha sido uma peregrinatio ad loca infecta? Não foi ao mundo que fomos enviados para que, em nosso peregrinar, exaltemos Aquele que não é deste mundo? O caos é apenas a matéria que espera o nosso operar ordenador, que nunca será apenas nosso. Nele, caos, também estão os deuses.

sábado, 21 de novembro de 2009

O eternamente necessitado

Dependente, eternamente necessitado, o viandante não cessa, em cada instante, de precisar da Sua ajuda. Se lhe lembram a autonomia, o senhorio de si, o viandante sorri e segue viagem. Nos seus lábios, um cântico de gratidão ao Senhor dos exércitos. Um soldado não deve apenas temer o seu general, terá de amá-lo e confiar-lhe, na cegueira da batalha, a vida. Do princípio ao fim.

Poemas do Viandante (62)

62. CORVO

a esquecida friagem
arrefece os olhos
de quem passa

um grito na tarde
e o corvo resvala
na fronteira
onde da vida
a morte se aparta

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Seja feita a Vossa vontade

Seja feita a Vossa vontade. Mas quando ela vem sobre nós tão contrária ao desejo que nos habita, como pode ser tão pesada? É preciso que a Tua vontade seja feita, pois a nossa não é mais do que vontade corrompida. Mas esta corrupção é difícil de aceitar, de compreender, de avaliar segundo um mérito que não está aferido pelos nossos padrões. Agora que as circunstância manifestaram um querer que eu não quero, eu escuto "seja feita a Vossa vontade". Um silêncio dorido abre-se e uma luta entre vontades toma conta de mim.