terça-feira, 17 de novembro de 2009

Seja feita a Vossa vontade

Seja feita a Vossa vontade. Mas quando ela vem sobre nós tão contrária ao desejo que nos habita, como pode ser tão pesada? É preciso que a Tua vontade seja feita, pois a nossa não é mais do que vontade corrompida. Mas esta corrupção é difícil de aceitar, de compreender, de avaliar segundo um mérito que não está aferido pelos nossos padrões. Agora que as circunstância manifestaram um querer que eu não quero, eu escuto "seja feita a Vossa vontade". Um silêncio dorido abre-se e uma luta entre vontades toma conta de mim.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Poemas do Viandante (61)

61. CALENDÁRIO DE ERVAS

era o tempo 
em que nomeavas
as estações

calendário de ervas
segredo aberto
luz de aluvião

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Poemas do Viandante (60)

60. FOGO E LÍRIOS

a música
pela noite

soletrada 
fogo e lírios
a crescer
na pedra

pelo outono
maculada

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poemas do Viandante (59)

59. PROMESSAS DE AR

as colinas viradas
ao norte
o olhar vago 

com que oiço
os pássaros

promessas de ar
numa casa 

em vendaval

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Poemas do Viandante (58)

58. DESTINO

de que serve
falar do destino?

o vinho azedou
e na mesa
o pão endurece
é a luz de agosto

domingo, 25 de outubro de 2009

Poemas do Viandante (57)

57. GOTA DE FEL


a tristeza
de um pequeno prazer

a gota de fel
que cai
e começa
a arder

Poemas do Viandante (56)

56. RUMOR

no vão 
da janela
um rumor 

de espelhos
e as folhas da acácia
abrem-se
ao entrar por ela

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Poemas do Viandante (55)

55. FOLHA DE ÁGUA

veio a sombra
e calou 

a voz do sol
espalhou
uma lâmina 

de água
sobre a erva
agora
um lençol

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O silêncio cresce

O silêncio cresce desmesurado. Uma quase impossibilidade de escrever ou de ler, um sabor amargo de indiferença por tudo o que toca o caminho. Como se as palavras se tivessem gasto e fosse impossível pegar-lhes.

Poemas do Viandante (54)

54. ACENO

o gesto
que se afoga
no calor da água

as últimas folhas
suspensas
do sol de novembro

o aceno
que me despede
na viagem