Oskar Kokoschka - Cavaleiro errante (1915)
Tinha chegado ao fim da linha, pensou. Ouvia o correr das águas do rio e, nessas águas, via desfilar, cena atrás de cena, os episódios da sua errância. Quantas metas falhadas? Quantas oportunidades desperdiçadas? Quantos caminhos andados por engano? Não, não era um cavaleiro andante coroado de vitórias em mil combates decisivos. Era apenas um homem que caminhara de erro em erro até à noite em que tudo se desfaz. Fechou os olhos e entregou-se ao rumor das águas. Primeiro, pareceu-lhe um alvoroço confuso. Depois, a confusão ganhou em sentido no seu espírito e o rio caminha vasussurrante na planície. Por fim, quando a aurora despontou, era apenas um débil murmúrio que ecoava no seu coração. Levantou-se e naquele instante, pela primeira vez, soube o caminho a seguir e aquilo que o esperava.