domingo, 1 de setembro de 2019

Aparição

Sergey Borisov, Russia, 1988
Houve apenas duas testemunhas. Uma morreu passado dias, a outra sou eu. Na fotografia que correu mundo, nunca se soube quem a tirou, sou o que está perfilado. Sobre o acontecido, uns diziam que a fotografia era falsa, outros que se estava perante uma assumpção aos céus, outros que era a chegada de um emissário de Deus. Ninguém estava certo. A fotografia era verdadeira, mas a pessoa, se era uma pessoa, nem descia nem subia aos céus. Formou-se ali mesmo diante de mim. O ar tornou-se mais espesso, ganhou contornos, até que se modelou como um ser humano. Pairou alguns minutos à minha frente, depois caminhou pelos ares, dobrou uma esquina. Não há quem saiba o que lhe aconteceu.

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