Não é pelos filhos que ela vela. Vestida de negro, deixa que os olhos se inclinem numa oração. No murmúrio da súplica os deuses escutam a voz do cosmos quando triunfa sobre o caos.
Não é pelo peso da tarefa, mas não há no mundo maior responsabilidade. Ao crepúsculo, o homem ergue-se e, bordejando precipícios, leva, com mão firme, um grão de luz para que as trevas da terra não façam presa.
Alexey Titarenko, Old woman, St. Petersburg, Russia, 1999
Há no rio tempestuoso da vida uma crueldade para com aqueles que envelhecem. São deixados na margem à espera que o tempo passe e os sepulte na grande pátria do esquecimento. E o que não gostamos de ver, durante os anos gloriosos da existência, é que, mal nascidos, os nossos passos dirigem-se, guiados por instinto infalível, para essa margem de onde não há retorno.
Václav Chochola, Adolf Hoffmeister au deux Magots, 1969
O canto do café é um lugar privilegiado. Não porque seja um sítio excelente de observação da comédia humana, mas porque torna manifesta a nossa natureza lateral. Talvez ainda hoje a espécie humana se pense como centro do universo, mas na verdade não passa de um bando marginal no concerto da criação.
Na ideia de chapéu, um homem sem biografia espera a solenidade da sombra e investe-a com a aura que anuncia, ao mundo e à cidade, a santidade de um pecador ou a perdição de um santo.