42. SÓS
inclino-me
para a mudez
da tua voz
e no segredo
arvorado
pela noite
canto-te
como se
estivéssemos
sós
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Dissipação
Passam os dias e o deserto cresce como uma ameaça ou uma promessa. Se quero agarrar o caminho, tudo se dissipa e é névoa, onde os olhos impotentes se cerram. Que faço tão longe de Ti? Que faço nesta prisão onde devaneio amarrado às sombras da velha caverna? São dias de chumbo os meus dias, horas sôfregas onde vejo o tempo passar diante de mim. Na inércia que me acomete, vagueio, mortal errante perdido de sua casa.
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segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Poemas do Viandante (41)
41. A FRONTEIRA
a folhagem
batida pelo vento
o chão de areia
a casa vergada
pelo tempo
assim escutava
o sopro a bater
no canavial
a fronteira
que subtraía
de um o outro
coração
a folhagem
batida pelo vento
o chão de areia
a casa vergada
pelo tempo
assim escutava
o sopro a bater
no canavial
a fronteira
que subtraía
de um o outro
coração
domingo, 30 de agosto de 2009
Despotismo das circunstâncias
Um mês longe dos afazeres habituais, mas mesmo assim submetido ao despotismo das circunstâncias. O sentimento desse despotismo é a medida da ausência de liberdade.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Poemas do Viandante (40)
40. GRITO DE SILÊNCIO
um grito
de silêncio
na cortina
do mar
sombra de água
cardume de limos
nuvem trazida
pela maré
um grito
de silêncio
na cortina
do mar
sombra de água
cardume de limos
nuvem trazida
pela maré
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
De Quedar a En-Gaddi
Das tendas de Quedar ao horto de En-Gaddi, será ainda um caminho que se desenha, uma viagem que se abre, uma luz que paira sobre a sombra do mundo? Vai o Viandante das trevas para as trevas, mas nele há a esperança de luz, a súbita presença da tua face, o odor a desprender-se de teus olhos. De Quedar a En-Gaddi é o meu caminho, entre vinhas que não guardaste, entre rebanhos cansados de meio-dia, entre as tuas mãos enegrecidas pelo sol. De noite saí de Quedar, declinava o astro quando me mataste a sede em En-Gaddi.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Poemas do Viandante (39)
39. TRAIÇÃO
traição
rumor
sopro
ou vento
mancha
de solidão
na árvore
em flor
traição
rumor
sopro
ou vento
mancha
de solidão
na árvore
em flor
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O devaneio de uma sombra
Mergulhar em si mesmo e esquecer-se de si. Procurar a vida do espírito não é procurar a satisfação dos seus desejos, nem encontrar um caminho para ultrapassar as suas frustrações, ou para realizar o não realizado dos seus projectos. Mergulhar em si para ver os seus desejos, as suas frustrações, os seus projectos como aquilo que eles são: um devaneio de uma sombra. Quem dará importância ao devaneio de uma sombra? Ao aceitar o devaneio enquanto devaneio, poder-se-á ir mais além no caminho, agora mais substancial.
domingo, 23 de agosto de 2009
Poemas do Viandante (38)
38. NÃO PERTENÇO AQUI
sem memória
caminho
olho os goivos
e as flores
que trazes
entre mãos
mas não pertenço aqui
e volto à estrada
esqueci os sinais
e o lugar
onde guardava
os segredos
como se fossem
violetas
sem memória
caminho
olho os goivos
e as flores
que trazes
entre mãos
mas não pertenço aqui
e volto à estrada
esqueci os sinais
e o lugar
onde guardava
os segredos
como se fossem
violetas
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Da sedução - II
Na sedução há um atrair que é um tornar próximo fundado, ao mesmo tempo, na dinâmica do ficar cativo e iluminado, na tensão entre luz e trevas. Mas esta compreensão da sedução está alicerçada numa outra coisa. Seduzir provém do latim seducere que significa “levar para o lado”. Que experiência encontramos aqui e que poderemos reportar ao sentido hodierno de sedução? Na sedução ecoa a inclinação. Ser levado para o lado é ser inclinado por e para qualquer coisa. A inclinação na ética kantiana tem uma conotação negativa, pois ela resulta sempre de uma submissão à sensibilidade e de uma posição não autónoma. Mas em si mesma a inclinação não pressupõe a natureza daquilo para onde somos inclinados. O que está em jogo, de facto, é que na sedução há uma ruptura com a esfera própria e um transcender-se, transcendência que pode ser captada na ideia de inclinação. Na sedução, ao inclinar-me, sou levado para o lado, mas este lateralizar não implicar um perder-se no caminho. Depende daquilo que me inclina e me faz sair de mim e procurar um caminho. Pode ser mesmo o início do caminhar, pois este implica sempre um deslocar-se de um lado para outro.
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