Pierre Dubreuil, Marée Basse, 1904 |
quinta-feira, 23 de junho de 2022
O sal do silêncio (84)
terça-feira, 21 de junho de 2022
O Espírito da Terra (15)
Julius Strakosch, Fin du Jour, 1895 |
domingo, 19 de junho de 2022
Impressões 98. Uma sombra
Chuck Kimmerle, The Unapologetic Landscape |
sexta-feira, 17 de junho de 2022
Sete Cartas - 6 Ao anjo de Filadélfia
Vincent Van Gogh, Ángel, 1889 |
Na
poeira de ébano desta terra, reina anjo avaro,
armadura
branca presa na pálida luz da palavra,
olhos
de pérola atalaiam as ruas da cidade,
o
tormento do calor na sombra coagulada,
estátua
de sal, mãos de seda, pó de penumbra.
Ouve-se
a brancura da voz na força da tarde,
o
poder de quem tem a chave de todas as chaves,
o
silêncio nascido na textura de cada dia.
Eis
o segredo animal a dançar na pólvora das horas,
promessa
de luz, sangue vazado no joio da vida.
Nas
praças perdem-se homens de exíguo poder.
A
carne levita-lhes na gravidade azul do desejo,
o
espírito prostrado ante a porta sempre aberta
para
a incandescência estelar das searas
crestadas
pelo peso do Sol no rio do abandono.
Com
esta chave abrirás o segredo dos mares,
o
rumor das palavras esquivas nas folhas de jornal,
as
mãos perdidas por entre musgos e relvas,
um
dedo ferido na porta empurrada pelo vento,
tempestades
trazidas na voracidade da tua voz.
Com
esta chave fecharás a luz na sombra do mar,
os
dedos cobertas de nódulos, feridas, a cinza
do
êxtase presa nas muralhas de cristal,
a
devassidão com que os passos empurram
homens
de pedra para o relâmpago da tempestade.
1993
quarta-feira, 15 de junho de 2022
O Espírito da Terra (14)
segunda-feira, 13 de junho de 2022
O sal do silêncio (83)
sábado, 11 de junho de 2022
Biografias 29. A fotógrafa
Florence Henri, Self-portrait, 1938 |
quinta-feira, 9 de junho de 2022
Câmara discreta (11)
Max May, Kalter Rauhreiftag, 1908 |
terça-feira, 7 de junho de 2022
Meditação Breve (181) A eloquência
Giorgio de Chirico, La estatua silenciosa Ariana, 1913 |
domingo, 5 de junho de 2022
O Espírito da Terra (13)
Léonard Misonne, Crépuscule, 1908 |
sexta-feira, 3 de junho de 2022
Haikai do Viandante (425)
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Diálogos morais 63. A mão
Alfred Eisenstaedt, Couple holding hands, 1948 |
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Câmara discreta (10)
Constant Puyo, Chant Sacré, 1899 |
sábado, 28 de maio de 2022
Impressões 97. Carga pesada
Jozef Emiel Borrenbergen, Heavy load, 1923 |
quinta-feira, 26 de maio de 2022
O sal do silêncio (82)
terça-feira, 24 de maio de 2022
Meditação Breve (180) Símbolos e palimpsestos
Albert Monier, L'écriture de la lumière, c. 1951 |
domingo, 22 de maio de 2022
O Espírito da Terra (12)
Otto Scharf, Waldbach, 1902 |
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Arqueologias do espírito 27
Caspar David Friedrich, Puerto de Noche, 1818 |
quarta-feira, 18 de maio de 2022
O sal do silêncio (81)
Léonard Misonne, Splendeur de la Boue, 1938 |
segunda-feira, 16 de maio de 2022
O Espírito da Terra (11)
Leonard Misonne, Sortie de la Gare, 1939 |
sábado, 14 de maio de 2022
Micronarrativa (60) Iluminação
David Hamilton, Cabourg beach, France, 1970s |
quinta-feira, 12 de maio de 2022
Biografias 28. O leitor de jornais
David Turnley, Man Reading Paper Through Magnifier, 1975 |
terça-feira, 10 de maio de 2022
Haikai do Viandante (424)
domingo, 8 de maio de 2022
O sal do silêncio (80)
Lehnert & Landrock, Prayer in desert, c. 1920 |
sexta-feira, 6 de maio de 2022
Biografias 27. A tecedeira
Paul Wolff, Weaver, 1930s |
quarta-feira, 4 de maio de 2022
O Espírito da Terra (10)
Jean Dieuzaide, Vue aérienne, Montagne Noire, reboisement, 1968 |
segunda-feira, 2 de maio de 2022
Meditação Breve (179) Tempo
Ilse Bing, Poster, Henry VIII, 1934 |
sábado, 30 de abril de 2022
Câmara discreta (9)
Paul Strand, Blind, 1916 |
quinta-feira, 28 de abril de 2022
Sete Cartas - 5 Ao anjo de Sardes
Salvador Dali, Sin título (Angel surrealista), 1969 |
Em
Sardes, caminha um anjo de argila e cinza,
preso
na melancolia de uma rameira sem cor,
perdido
entre o lixo das ruas e o carvão dos dias.
Ergue
a cabeça coberta com o limo da ardósia,
a
erva estreita das paredes orladas pelo xisto da sombra.
Leva
no fundo da alma a porcelana branca
rasgada
pela espada pura dos dias de Inverno.
Conta
os espíritos de Deus e as estrelas do céu.
Conta
os fogos da revolta e os incêndios nos campos.
Conta
as obras por fazer e as noites por chegar.
Conta
os dias de tristeza e os grãos de areia.
Em
temor, escuta a palavra do silêncio entre o ruído,
a
voz coberta de luz no andaime da cegueira.
Então,
os dias passam sobre as glicínias da aurora,
os
arbustos da infância, os sonhos de ambrósia.
Noites
azuis na dança dos cedros batidos pelo vento.
Serão
perfeitos os anos diante do juízo que virá?
O
sopro do vento reanima a onda pegajosa da vida,
abre
Fevereiro à página branca iluminada pela Lua,
os
frutos amadurecidos pela errância do tempo.
Ao
guardar a terrível palavra na têmpora da noite,
será
o anjo um furtivo ladrão, ferirá a areia da praia
com
o embrião das horas, o imprevisto de cada dia.
Ano
após ano crescerá uma contaminação,
a
mancha delgada irradiando em torno do ventre,
os
dias passados sob o candeeiro de querosene.
No
Ocidente, uma nuvem de breu cavalga o vento,
as
palavras ditas em Sardes, terra de argila e cinza
habitada
pelo anjo preso aos meandros das ruas,
cansado
dos Invernos que traz na vazio das mãos,
no
êxtase da luz, na secreta avidez da rosa de Deus.
1993