René Burri, Le Pelican de Mykonos, Greece, 1957 |
Todos
as manhãs o homem percorria o cais. Não tinha qualquer traço que o diferenciasse
dos outros habitantes da ilha. Nunca esquecia o boné e a flauta. Misturava
melodias tradicionais, algumas muito antigas, com improvisações, pois o tempo e
o treino deram-lhe um domínio perfeito do instrumento. Era sempre acompanhado por um enorme pelicano. Este surgia quando ele tocava certa composição
religiosa inspirada no sacrifício de Cristo. Às primeiras notas, a ave vinha do nada e acompanhava o tocador de flauta até se dissolverem no horizonte. Um
dia, curioso, abordei o músico e perguntei-lhe de quem era aquele pelicano.
Respondeu-me de modo estranho. O pelicano é aquele que é, e aquele que é não
pertence a ninguém.