terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (21)


árvores, montanhas
sobre um fio de água sonâmbula:
ali a águia sonha.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (20)


caminhos de terra
são rios de argila e calcário
no corpo da serra.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (19)


manhã clara e breve,
onde as folhas d'outono
cantam ao de leve.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (18)


abre-se a lua
sobre a noite sem mistério:
silêncio p'la rua.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (17)


astro tão sombrio
a lua na noite escura:
musgo puro e frio.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (16)

Le Merle Noir (Olivier Messiaen)

voa, no fim da tarde,
o melro negro anunciando
a noite que em ti arde.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (15)


caída no chão,
ergue-se vermelha a rosa:
fogo e luz na mão.

Arvo Pärt - Most Holy Mother of God


No dia da Imaculada Conceição, uma composição belíssima de Arvo Pärt, nas extraordinárias vozes do Hilliard Ensemble, as quais tivemos o supremo prazer de escutar em Leira, há já alguns anos.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Allegri - Miserere Mei


Há alturas na vida que a única coisa que apetece fazer é entoar um Miserere. Pelo mal que fizemos? Não, pelo bem que não tivemos talento de fazer.

Haikai do Viandante (14)


da noite, o véu
cai negro, leve e pesado,
um rumor no céu.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Poemas do Viandante


241. Antígona

pobre princesa
conduzes o infeliz cego
e na tua fronte altiva
vem já desenhado
o rosto da morte

a poeira de tebas
o irmão insepulto
são flores que anunciam
o destino infausto
trazido por mãos cruéis
pousadas nas trevas do poder

domingo, 27 de novembro de 2011

Poemas do Viandante

240. Etéocles e Polinices

foi dura a batalha
e de sangue nunca a terra se cansa
pobres flores as que
édipo semeou

são cardos e joio
a palha seca
que o vento pela sombra
de tebas levou

sábado, 26 de novembro de 2011

Haikai do Viandante (13)


o dia amanhece
luz e sombra, jardim onde
a rosa floresce

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Haikai do Viandante (12)


cada folha caída
pelo tempo frio de outono
ó luz renascida

Salve Regina, Arvo Pärt


Um salto no tempo, do tempo de Pergolesi (1710-1736) para o nosso, para Arvo Pärt, do Stabat Mater para a Salve Regina. Mas não por acaso, sempre sob a égide de Maria.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Stabat Mater, de GB Pergolesi (2)


Uma outra versão do Stabat Mater, de Pergolesi. A imagem que o autor do vídeo escolheu para acompanhar a peça musical é eloquente. Não é meramente uma mãe que chora a morte do seu filho. É ao mesmo tempo as dores da alma no parto do Verbo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Stabat Mater, de GB Pergolesi



Stabat mater dolorosa
juxta Crucem lacrimosa
dum pendebat Fillius

(todo o texto aqui)

Nunca me canso de ouvir. Esta é a versão de que mais gosto (sopranista, embora aqui seja ainda uma criança, e contratenor). Não sei do que mais gosto, se do texto, se da composição de Giovanni Battista Pergolesi, se das excepcionais interpretações do Concerto Vocal, Sebastien Hennig e René Jacobs, Na transição que vai do primeiro verso Stabat mater dolorosa ao último paradisi gloria. Amen, o luto da mãe de Cristo transforma-se na vitória da vida sobre a morte, e percebemos como uma cena pascal é, ao mesmo tempo, a promessa do verdadeiro natal.

domingo, 6 de novembro de 2011

Haikai do Viandante (11)


árvore ao luar
ébrio fantasma nocturno
que oiço cantar

sábado, 5 de novembro de 2011

Haikai do Viandante (10)



sombras de azul
relembram aves sonâmbulas
sonhando o paul

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Haikai do Viandante (9)


o sol sobre a água -
uma planície de fogo
nuvens a arder

Poemas do Viandante

239. Ifigénia

no quadro de tiepolo
a lâmina no ventre
sussurra-me a armada
levada pelo vento

e os aqueus partem para a guerra
vão viris e livres
navegam num mar de sangue
que desceu do teu corpo
e limpou a terra

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poemas do Viandante

238. Ulisses

pobre ulisses o mar encapelado
é uma sombra suave
sobre o teu ombro
e a ira do deus
um refrigério na tarde

penélope escolheu
e as núpcias de ferro
estão consumadas

não suspires ainda
a noite só agora começa

domingo, 30 de outubro de 2011

Poemas do Viandante

237. VIDA

a vida – a noite a trouxe ­–
um mistério
de silêncio
promessa de luz
cântico de água
no fogo do
pensamento

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Haikai do Viandante (8)


nas margens do rio
desliza feroz a mágoa - 
prisão e voragem

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Haikai do Viandante (7)


abre-se ao terror
da noite a velha árvore - 
murmúrios de luz

domingo, 23 de outubro de 2011

Haikai do Viandante (6)


Chuva de Outono
enche a noite de cansaço.
Um punhal na lua.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um espectáculo odioso


A miserável morte de Muammar Kadhafi, mais uma das execuções, pela plebe em delírio, de inúmeros ditadores mais ou menos odiosos, a que tenho assistido ao longo da minha vida, deixa-me, como sempre, um traço de amargura no fundo do coração. Compreendo que numa cultura fundada na lei de talião se possa comemorar com exuberância este tipo de acontecimentos. Mas a minha consciência de ocidental, mesmo que o Ocidente tenha cometido inúmeras atrocidades, sente uma veemente repulsa por estas iniquidades. São duas as fontes culturais da minha repulsa. Por um lado, a ética da justa medida aprendida com os gregos. A justa medida, interpretada nos nossos dias, significa a sensatez da pena, a racionalidade de um processo jurídico a que o réu deve ser submetido, mesmo que ele nunca o tenha permitido aos seus adversários. Mas a lei da razão herdada dos gregos, na cultura Ocidental, foi enriquecida pelo convívio com a grande novidade cristã, o perdão do inimigo, a lei do amor como princípio fundamental das condutas individuais. Este é o núcleo duro dos valores éticos fundamentais do Ocidente. É este núcleo que deve ser cultivado quotidianamente, mesmo, ou ainda mais, numa sociedade que, como a nossa, está a perder o norte. A razoabilidade aristotélica e o sacrifício do Cristo são o suficiente para tudo julgar, condenar e perdoar. O perdão não significa a eliminação da pena, mas a sua razoabilidade e a sua limitação, de forma a que a pena não seja um acto de vingança. Kadhafi tinha direito àquilo que terá negado a muitos, a ser julgado por um tribunal independente, num processo justo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Poemas do Viandante

236. SERENIDADE

chegaram os dias propícios
a aragem toca
o arvoredo
um gato corre
e o sol recolhe-se
para lá dos montes

no silêncio da noite
respiro
e deixo vir a tua voz
cantar sobre a luz
que dardeja
a serenidade