sábado, 15 de maio de 2021

A fronteira

Eugene Robert Richee, Betty Grable, 1930s
Da única coisa de que tenho a certeza é do seu nome. Encontrei-a sentada diante de um espelho. Entre ambos parecia haver uma estranha relação. Não aquela que, por preconceito e irreflexão, atribuímos às mulheres. Parecia antes uma barreira que ela tentava passar, como se quisesse entrar pelo vidro. Precisa de ajuda? Perguntei-lhe. Olhou-me e sorriu, mas não disse nada. Parecia deslocada. Não force o espelho com o corpo, ele pode partir-se. Disse-lhe. Deu-me uma resposta inusitada. As fronteiras servem para ser forçadas, quero ir para a casa. Posso levá-la. Como se chama? Não sabe o meu nome? Quando lhe ia responder, entrou por dentro do espelho e desapareceu. Claro que sabia o seu nome. Não me atrevi a segui-la.

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