sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Chegar a tempo

Gerda Taro, Two Republican soldiers with a soldier on a stretcher, Navacerrada Pass, Segovia front, Spain, 1937

Como podem eles comigo? Está luminoso o sol. Já não me dói nada. Sim, sinto-me tão pesado, a cabeça parece feita de chumbo. Vou morrer? Sim, vou morrer. O sol, como é luminoso. Não sei se esta luz é bela, como era a que iluminava a minha casa. Aqui não há beleza. Irei morrer, eles não chegarão a tempo. Ao menos que viesse uma ambulância. Terá valido a pena? E se não tornar a ver o sol, nem a ouvir a voz das raparigas ou o vento a sussurrar na noite? Estão outros a cair e os que me levam vão tão devagar. As balas chegam depressa, demasiado cedo, mas os homens são lentos, demasiado lentos. O corpo agora quase não o sinto e a cabeça pesa tanto. Chegarão a tempo? Chegarão?

Sem comentários:

Enviar um comentário