segunda-feira, 7 de maio de 2012

Da felicidade

Charles Lapicque - L'invitation au bonheur (1954)

Estranho desejo esse que toca a todos os homens, o de uma vida feliz. Filosofia e religião, arte e ciência, mesmo a política, tudo se move em nome da felicidade. No entanto, apesar dos múltiplos convites que ela dirige ao homem, sempre lhe escapa, persistente miragem no deserto da vida. O que seríamos nós, seres humanos, se abandonássemos a velha dicotomia feliz-infeliz? O que aconteceria se eliminássemos o desejo de felicidade e riscássemos do mapa sentimental a infelicidade? Talvez nesse momento coincidíssemos connosco e nenhuma brecha se abrisse no nosso ser. Mas não será essa coincidência consigo aquilo que sentimos quando nos sentimos felizes? E a busca da felicidade não se deve a essa distância entre o que somos e o que desejamos? E a infelicidade não nasce da constatação de um hiato entre desejo e realidade? Talvez não haja coisa que causa mais infelicidade do que a ideia de felicidade, essa revolta contra o que, a cada instante, somos.

1 comentário:

  1. A ideia de uma felicidade possível é a matriz (cósmica?) que nos ilumina e nos faz perserverar na sua busca. Sem essa ideia, nada seria possível. Viveríamos num pântano obscuro sem redenção possível.

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