Kurt Schwitters - Los Angeles (1943)
Será a realidade uma colagem de fragmentos ou a sua imagem fragmentada resulta das múltiplas intencionalidades do nosso desejo? Relativos e finitos, suportamos o peso de uma faculdade de desejar sem limites. Coisas, objectos, uma paisagem, por vezes o sorriso outras um olhar, depois o toque de uma pele, para chegar a vez de um sonho ou de uma ilusão, tudo isto entra por nós, revolve-nos, cria uma dinâmica, estabelece um desequilíbrio no sistema hidráulico que nos liga ao mundo. Cindidos, fracturados, num mundo em estilhaços, desejamos o Absoluto, esse exercício de libertação das tiranias da relatividade. Este, porém, não desarma e sussurra: descobre-me em cada fragmento, naquele olhar que amaste, na pele que desejaste, no objecto que te fez sonhar, na dor a que fugiste. Estou aí, estou em cada lugar onde o mundo se estilhaça e decompõe, sou o ser em tudo o que deixa de ser, o desejável de cada desejo. Sou o teu desejo e a coisa desejada, sou a intenção desejosa e o prazer consumado.
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