Augusto Gomes, sem título, 1953 (Gulbenkian) |
terça-feira, 23 de abril de 2024
O sal do silêncio (113)
domingo, 21 de abril de 2024
Diálogos morais 65. Raízes
Unknown, Cypress Trees on Side of Roadway, 1912 |
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Pintura e haikus (39)
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Sonetos de Primavera (4)
Lucas Van Valckenborch, Animals Grazing beneath Trees, 1573 |
Sigo
pela vereda junto ao rio,
os
campos do Inverno se despedem.
Viandantes
sem nome, extasiados,
olham
o despertar da natureza.
A
vida rude anima o turbilhão
das
águas que procuram o caminho.
Depois
dos rios, um mar as aguarda.
Levam
a voz dos campos, luz e cal.
Olho
o longo adeus, oiço calado
o
rufar dos tambores na voz quente
dos
pássaros do Sul, junto ao rio.
A
súbita memória do Verão
incendeia
de luz rios e campos,
um
fogo de água arde frio no mar.
Abril de 2024
segunda-feira, 15 de abril de 2024
Meditação breve (194) Ler e escutar
Manuel Filipe, Leitura clandestina / Audição clandestina, 1945 (Gulbenkian) |
sábado, 13 de abril de 2024
A memória do ar (29)
Mário de Oliveira, Paisagem, 1973 (Gulbenkian) |
Os campos que se abrem ao peso do ar florescem em Primaveras tardias, onde a memória do passado se constrói na lentidão com que o tempo, embalado pelas brisas matinais, se apodera da terra e perscruta aquilo que o ar esconde na opacidade da sua pura transparência.
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Geometrias de fogo (29)
José Dominguez Alvarez, Rua ao Sol, 1930 (Gulbenkian) |
terça-feira, 9 de abril de 2024
Sonetos de Primavera (3)
Léon Kossoff, Red Brick School Building, Willesden, Spring, 1981 |
A
luz da tarde abre o horizonte,
a
cidade cintila crua e sôfrega
tecida
no azul dum céu de cristal,
nascida
no espelho da memória.
Ao
longe, as muralhas do castelo,
mais
perto, o rumor vivo do rio.
As
pessoas caminham em silêncio,
presas
na sombra pálida do dia.
Sigo
as labaredas da memória,
inscrevo
no cristal o céu azul
roubado
ao espelho da infância.
Solícita,
a cidade feita sombra
chama-me
no rumor rude do rio,
fala-me
no silêncio de quem passa.
Abril de 2024
domingo, 7 de abril de 2024
A sombra da água (29)
W. Eugene Smith, Iwo Jima,
1945 |
sexta-feira, 5 de abril de 2024
O Espírito da Terra (29)
Autor desconhecido, Hawaiian Tree Study, 1900-1910 |
quarta-feira, 3 de abril de 2024
A memória do ar (28)
Inês Cannas, s/título (PIQ 6), 2000 (Gulbenkian) |
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Sonetos de Primavera (2)
Paula Modersohn-Becker, Man lying beneath a Blossoming Tree, 1903 |
Veio Abril, o mês da vã promessa,
o
tempo onde o sol e a fria chuva
se
encontram nos olhos extasiados
de
quem vai pelos campos, solitário.
Um
ardor nupcial fulge na terra.
Cintilações
e fogos de artifício
fendem
as sombras ávidas da noite,
são
cânticos de pássaros nos céus.
Pelos
campos caminho solitário,
guardo
a promessa nos meus olhos
abertos
para o êxtase de Abril.
No
fogo desta noite rasgo as sombras.
O
que estava morto ressuscita
na
voz núbil dos pássaros que cantam.
Abril de 2024
sábado, 30 de março de 2024
Geometrias de fogo (28)
Michel Kidner, Orange, Pink and Violet, 1964 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 28 de março de 2024
Impressões 116. Jardins
Fernando Lemos, Jardim, 1959 (Gulbenkian) |
terça-feira, 26 de março de 2024
A sombra da água (28)
Arthur R. Dresser, Die Klippen von Corbière im Sturm, 1891 |
domingo, 24 de março de 2024
Sonetos de Primavera (1)
Manuel Filipe, Inverno-Primavera (Homenagem à Sagração da Primavera de Igor Stravinski, 1978 (Gulbenkian) |
de promessas eternas, um engano
que a todos encanta e abre à
vida.
Veio plena de luz e
sortilégios.
Crescem os dias, as noites
silenciam
os antigos terrores, todos
dançam
uma dança arcaica, rodopiam
sem parar na poeira fria do
tempo.
Vamos pela floresta do engano,
caminhamos na luz branca da vida,
presos aos sortilégios prometidos.
O silêncio da noite é um
bálsamo,
traz o esquecimento da poeira
onde o tempo germina a fria
morte.
Março de 2024
sexta-feira, 22 de março de 2024
A memória do ar (27)
William Henry Jackson, Yucatan, 1889 |
O vento transporta a memória do ar, uma memória feita das coisas que toca, das árvores e dos arbustos, dos animais e das montanhas, dos rios e dos homens, dos artefactos e dos objectos naturais. É uma memória, se entregue ao próprio ar, imóvel. Permanece em pura quietude, até que o vento a transporta, cada vez mais longe, até que ela se dissolva ou se resguarde naqueles lugares de eterna quietação.
quarta-feira, 20 de março de 2024
segunda-feira, 18 de março de 2024
O sal do silêncio (112)
Juan Antonio Aguirre, Bailarinas, 1990 |
sábado, 16 de março de 2024
Sonetos de Inverno (12)
quinta-feira, 14 de março de 2024
Câmara discreta (20)
Ed van der Elsken, Self-portrait with Ata Kandó, 1953 |
terça-feira, 12 de março de 2024
Geometrias de fogo (27)
Joaquim Rodrigo, Trás-os-Montes, 1964 (Gulbenkian) |
domingo, 10 de março de 2024
No limiar (16)
Victor Palla, sem título, 1990 (Gulbenkian) |
sexta-feira, 8 de março de 2024
Sonetos de Inverno (11)
Mário de Oliveira, Lucalena de las Torres, 1967 (Gulbenkian) |
a palavra e
a revolta de Inverno.
As estrelas
rodopiam ao vento,
astros mudos
no silêncio da sombra
Apressado,
veio Março tomado
pelo canto
dos antigos profetas.
Folhas
mortas, castas, caem das árvores,
sussurrando sortilégios
e espantos.
Pelas frias
avenidas de Inverno,
do silêncio
soletrado virão
inocentes as
palavras de sal.
Auspícios
descem de bocas caladas.
Os profetas
são agora estátuas
nos jardins onde
os mortos se calam.
Março de 2024
quarta-feira, 6 de março de 2024
Arqueologias do espírito 29
Ferdinand Olivier, Procession of Pilgrims in the Forest, 1814 |
domingo, 3 de março de 2024
A sombra da água (27)
Fernando Calhau, sem título #441, 1980 (Gulbenkian) |
sexta-feira, 1 de março de 2024
Sonetos de Inverno (10)
José Dominguez Alvarez, sem título (Aspecto de rua com figuras) (Gulbenkian) |
A tristeza
destes dias de frio,
sob um sol
sem o motim do Verão.
Nostalgia
dos murmúrios da infância,
desventura
duma vida exígua.
Devoradas
pelo tempo, as horas
rodopiam
perturbadas sem parar.
Turbilhão
feito de ócio e dor,
a penumbra
dum sonoro segredo.
A infância
deambula nos dedos
com que
colho a nostalgia da vida,
tão exígua
na ventura que houve.
Eis o
vórtice onde tudo se perde,
turbilhão,
dor infinita das horas,
onde canto
em secreto silêncio.
Fevereiro de
2024
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
O sal do silêncio (111)
João Dixo, Quem pinta, pinta-se, 1978 (Gulbenkian) |
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
A memória do ar (26)
Maria Helena Vieira da Silva, L'air du vent, 1966 (Gulbenkian) |
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Sonetos de Inverno (9)
Muirhead Bone, View of Rome at Sunset, c. 1912 |
A paisagem
assombrada da tarde,
vendaval
vindo no voo do vento,
as mulheres
de cabelos revoltos,
os cavalos
delicados da noite.
Vou, de
Inverno em Inverno, sombrio,
faço luz na
escuridão da caverna,
onde oiço o
ecoar da memória
afogada no
silêncio do tempo.
Cavaleiro
sem cavalo na noite.
É a hora de
rasgar o caminho
na paisagem fria
e negra de névoa.
Sou o eco
que rasura a memória.
Sou a luz
branca da escura caverna.
Sou o tempo
e a sombra de Inverno.