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sábado, 16 de abril de 2022

O Espírito da Terra (9)

Otto Scharf, Going home, 1901

A terra é esse silêncio que acolhe os homens no regresso a casa, pois não há outro desejo mais humano do que estar em sua própria casa. Não é um desejo de propriedade, nem um culto de proprietário. É antes a certeza de que qualquer morada é precária e que se deve desfrutar, com zelo sem fim, antes que o tempo a remeta para o pó de onde saiu, sem deixar vestígio, como se nunca tivesse descido ao lugar vacilante da existência.

quarta-feira, 9 de março de 2022

O Espírito da Terra (8)

Francis Frith, Twickenham Thames, 1890s

Um rio, as margens tomadas pelo verde das ervas, os campos, o escasso casario. Ali a vida decorria sem pressa, ao ritmo das estações e dos trabalhos agrícolas. Havia pássaros e, por vezes, os campos tornavam-se prados onde os animais se demoravam gratos pelo alimento transbordante, ignorantes do destino. Nas tardes de calor, sob a sombra das árvores, havia homens segurando canas de pesca, indiferentes aos peixes, ao casario, concentrados num sonho feito de aromas de terra e água, de flores na Primavera.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O Espírito da Terra (7)

Alexandre Calame, L'Hiver, 1851

Coberta de neve, a Terra dorme suspensa à espera do que virá. Tudo emudeceu, os animais terrestres, as aves do céu, os rumores semeados pelo vento na ramagem despida das árvores. Noite do mundo, silêncio onde germinam os esporos de onde brotará, para súbita e selvagem sagração, a rosa de cristal da Primavera.

sábado, 19 de dezembro de 2020

O Espírito da Terra (6)

Erik (Dorn) Bodom, Høyfjell, 1871

O fulgor do dia esvai-se, perdido no ondular das águas. Pássaros rasgam o horizonte e voam sob o trémulo manto de nuvens. A noite estende as suas armadilhas de veludo sobre a terra que, sonâmbula, se entrega sem contenda, o coração a latejar e o espírito exaurido pela azáfama do dia.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O Espírito da Terra (5)

Arseny Ivanovich Meshchersky, Winter. Icebreaker, 1878

Também a terra se entrega nas mãos gélidas do Inverno. Tudo se torna mais agreste e uma beleza contida germina nas paisagens frias, como se a realidade se tornasse mais secreta, mais profunda, menos frívola, menos volúvel. Espera silenciosa por uns olhos que a vejam e se contaminem com a promessa que nela se esconde. 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O Espírito da Terra (4)

Albert Bierstadt, Atardecer en la pradera, 1870

Tocada pelo sol, a terra deixa lavrar na pele um grande incêndio. Não de fogo, mas de cores, com as quais conduz o espírito deslumbrado para o mistério que a habita. Ao arder assim, ela purifica-se e abre-se para a incerteza da noite, como se já o seu coração pulsasse na água rasa da aurora.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O Espírito da Terra (3)

Józef Rapacki, A daybreak (Landscape - Thaw), 1897

O dia irrompe e um sol ainda pálido ilumina a Terra. As neves do rigoroso Inverno começam a perder consistência e formam pequenos lagos, que mais tarde secarão, deixando o solo ávido do trabalho ancestral do arado.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O Espírito da Terra (2)

Ribeiro Christino, A mata do Rôsso (Barqueiros – Douro), 1922
Entre a pedra rude, o viandante traça na terra a sua viagem. Com decidida demora, descobre a vida a brotar do recôndito mistério oculto sob o solo terroso. Deixa-se encadear pelos aromas selvagens e no reverberar da luz ouve a melodia dos seus passos ao caminharem para si mesmo. 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O Espírito da Terra (1)

Ilda David, Espírito da Terra, 1999

Ali, nesse lugar onde uma árvore se enraíza e ganha alento para se elevar ao alto, reside o espírito da terra. Não a poeira fugidia, não a rocha dura, mas a matéria dúctil que, como uma mãe silenciosa, acolhe o pássaro vegetal e a metáfora de luz.