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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Vestígios

André Kertész - Luxembourg Gardens, Paris, 1925

Quantas vezes, inopinadamente, nos deparamos com vestígios da infância? Olhamo-los e eles respondem ao nosso olhar, interpelando-nos: como te afastaste tão depressa desse tempo em que eu fazia parte do teu mundo? E o nosso silêncio é o sinal de uma ignorância fundamental. Balbuciamos uma explicação sem nexo e sentimos a consciência culpada de termos deixado escapar, sem explicação, o território encantado em que o simulacro de um cavalo era um cavalo verdadeiro que nos levava para este e para qualquer outro mundo que a imaginação criasse.

domingo, 3 de julho de 2016

Fechar a porta

Fernand Khnopff - I Lock my Door upon Myself (1891)

Há no culto moderno do self, iniciado por Descartes com o cogito como princípio, ainda que garantido por Deus, da certeza inabalável, uma infantilidade que raramente é notada. O centramento sobre si mesmo é uma característica da infância. A maturidade chega pelo descentramento, pela descoberta de que não se é deus, e, de forma mais radical, pela descoberta de que, na verdade, não se é nada. Esta última descoberta pode ter efeitos paradoxais. Pode gerar um grande alívio, uma libertação, ou pode conduzir a que o self se refugie em si mesmo, na sua nulidade, e feche a porta, para que a sua certeza infantil resista ao confronto com a realidade.