sábado, 23 de julho de 2022

Crónicas (220) Um comboio

Toni Schneiders, Train in landscape, 1950s
Não há memória de ali ter havido uma linha de caminho de ferro. Os poucos habitantes daqueles lugares ermos não sabem o que são carris ou comboios. O mais extraordinário era o maquinista. Na verdade, uma mulher sem idade, cujo rosto não era possível reter. Olhava-se para ele e logo o esquecíamos. Quando o comboio, uma composição movida a vapor, parou num lugar onde não havia qualquer estação, entrou um casal, ambos com uma idade muito avançada. Também eles se vão embora, ouviu-se. Ao som de um apito, a máquina pôs-se em movimento, arrastando carruagens velhas e sombrias. Enquanto se afastava tudo o que ficava para trás se apagava. Ao fim de alguns instantes, não havia vestígio de ter havido carris por onde um comboio pudesse passar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário