segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Igreja e os modernos

Bento XVI, nesta sua viagem à Alemanha, relembra a necessidade de ser firme na fé contra os ventos de secularização e exprime o receio de que na Alemanha o catolicismo se protestantize, deixando ao livre-arbítrio de cada um aquilo em que quer acreditar. Referiu também que a Igreja está demasiado instalada e com pouca espiritualidade. Todos estes temas acabam por ser diversas faces de um mesmo e único problema, o da relação, ainda difícil, entre a tradição católica e a modernidade ocidental. A autonomia da consciência, a valorização da experiência, a capacidade crítica da razão, levantaram um conjunto de obstáculos à transmissão de uma tradição que, muitas vezes, se ancorou na infantilização das consciências, na negação do valor da experiência dos indivíduos e da capacidade crítica da razão. O problema não reside em que cada um acredita no que quer, isso é apenas um sintoma marginal. A questão está na experiência da fé e na entrega ao espírito sentidas como um imperativo que, em cada um de nós, constitui o seu próprio e singular mistério. Talvez a Igreja Católica esteja demasiado instalada porque perdeu o sentido último daquilo que a constitui e o substituiu por uma moralidade e por uma estética de duvidoso gosto. Nós, os modernos, com a cultura da razão que os tempos permitiram, com a autonomia da consciência que se conquistou e com o livre-arbítrio dado por Deus não precisamos tanto da Igreja - a quem manifestamente falta autoridade para falar do assunto - para aconselhamento sobre a moralidade sexual ou a política, mas precisamos de uma Igreja madura na experiência do Espírito, capaz de acolher e orientar o caminho para Deus, sabendo discernir os espíritos, digamos assim. O perigo de secularização não vem do século, mas de dentro das próprias instituições religiosas, onde parece que, há muito, tudo se tornou insípido, vulgar e banal. Basta escutar as homilias das missas dominicais. Como tocar os homens modernos se o discurso é estereotipado, vagamente moralizador, adocicado e onde não há sinal da presença do mistério que faz do homem um ser à imagem e semelhança de Deus?

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