Poemas do Viandante (60)

60. FOGO E LÍRIOS

a música
pela noite
soletrada 
fogo e lírios
a crescer
na pedra
pelo outono
maculada

Poemas do Viandante (59)

59. PROMESSAS DE AR

as colinas viradas
ao norte
o olhar vago 
com que oiço
os pássaros

promessas de ar
numa casa 
em vendaval

Poemas do Viandante (58)

58. DESTINO

de que serve
falar do destino?

o vinho azedou
e na mesa
o pão endurece
é a luz de agosto

Poemas do Viandante (57)

57. GOTA DE FEL


a tristeza
de um pequeno prazer

a gota de fel
que cai
e começa
a arder

Poemas do Viandante (56)

56. RUMOR

no vão 
da janela
um rumor 
de espelhos
e as folhas da acácia
abrem-se
ao entrar por ela

Poemas do Viandante (55)

55. FOLHA DE ÁGUA

veio a sombra
e calou 
a voz do sol
espalhou
uma lâmina 
de água
sobre a erva
agora
um lençol

O silêncio cresce

O silêncio cresce desmesurado. Uma quase impossibilidade de escrever ou de ler, um sabor amargo de indiferença por tudo o que toca o caminho. Como se as palavras se tivessem gasto e fosse impossível pegar-lhes.

Poemas do Viandante (54)

54. ACENO

o gesto
que se afoga
no calor da água

as últimas folhas
suspensas
do sol de novembro

o aceno
que me despede
na viagem

Poemas do Viandante (53)

53. LUZ ESMAGADA

foi um longo estio

horas calcinadas
a poeira vinda do sul
e a luz esmagada abria-se
no almofariz da tua mão

Poemas do Viandante (52)

52. AMÊNDOA ACESA

que fruto agradará
ao pano suave 
de tuas mãos?

o musgo da tarde
a cambraia dos dias
a amêndoa acesa
na luz da melancolia

Poemas do Viandante (51)

51. METÁFORA

o nome que te deram
– luz de erva
sobre campo de cinza –
chama por mim

velha metáfora
desliza na tinta
e afoga-se
na água do papel

Poemas do Viandante (50)

50. MOSTO

do dia
trago
o rosto
e o cheiro
a uvas
preso
ao mosto