domingo, 24 de setembro de 2017

Meditação breve (48) - Devaneio

Francis Wu - The Dreamer

No devaneio do sonhador em estado de vigília, não é este que se evade para outro mundo. É um mundo que lhe é estranho que o invade e, como num rapto, se apodera dele.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Haikai do Viandante (336)

Gustave Courbet - Le Château de Chilon, 1874

Montanhas e águas
sobre o mistério da tarde.
Silêncio no lago.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Poemas do Viandante (650)

Frantisek Kupka - Ensayo, robustez (1920)

650. ensaio um passo redentor

ensaio um passo redentor
na robustez
da eternidade
e oiço o canto
das estrelas
a poisar no jardim
que estremece
sob o pálido pavor
dos rubros pés de deus

(14/12/2016)

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Meditação breve (47) - Contemplativos

Charles Gatewood

O mais surpreendente naqueles que são contemplativos não é o facto de estarem arredados da acção e dos negócios humanos.  O que surpreende é a sua contemplação balançar sempre entre a aparência da indiferença e a prontidão com que respondem a uma solicitação de quem deles se aproxima.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Água que corre

Paula Modersohn-Becker - Landscape with Marsh Channel (1899 )

Como o fogo, também a água que corre exerce um grande fascínio sobre o espírito do homem. Ficar a ver passar as águas de um rio conduz os homens a uma experiência muito arcaica. Não é a antiguidade da experiência, porém, que a torna fascinante, mas o jogo de espelhos que ela opera. O espírito olha o fluir da água e reconhece-se a si mesmo. O rio de Heraclito é já uma solidificação dessa experiência, uma tentativa de racionalizar a experiência da fluidez do próprio espírito humano, mas este, como a água, recusa-se ao estado sólido e logo escapa do contorno da figura que o prende e parte em busca de si mesmo, para além das múltiplas figuras que vai tomando.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

As moradas do espírito

Walker Evans - Apartment Building Façade with Horse-Drawn Carriage, Sixth Avenue, New York, 1934

Múltiplas são as moradas que aguardam o espírito e em todas elas ele demorará o tempo de reconhecer que essa não é a sua morada e que uma outra o espera, num caminhar sem fim nem quietação.

domingo, 17 de setembro de 2017

O caminho sem fim

Alexej Titarenko - St. Petersburg, 1998

O exercício da metamorfose é a natureza do espírito. Quando perde a elasticidade e se petrifica, morre. É uma estátua de sal. Se, como Lázaro, for ressuscitado, espera-o o caminho infinito da transformação. Nenhuma casa é a sua casa, nenhum porto o abriga, nenhuma figura é a sua figura. O lugar onde chega é já aquele de onde deve partir. Além é sempre aquilo que o espera.

sábado, 16 de setembro de 2017

Poemas do Viandante (649)

Frantisek Kupka - Encuentro (1919)

649. o centro do silêncio rosna

o centro do silêncio rosna
se encontra
no orvalho
uma mão de caruma
e ladra
como um ladrão
sabe ladrar
à porta de pedra
desfeita
no feitiço da linguagem

(13/12/2016)

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Haikai do Viandante (335)

Jan Sudek

Os ramos despidos
na sombra do meu olhar.
Espero o inverno.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Meditação breve (46) - Rede

Albert Renger-Patzsch - Crab fisherman (1927 )

Transportamos a rede na qual, incrédulos, nos enrolamos.