sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Para lá da esperança e do medo

Lawrence Alma-Tadema - Between Hope and Fear (1876)

A expectativa domina a vida dos homens. A necessidade vital de prever o que vai acontecer acaba por dividir o homem entre o medo e a esperança, as formas negativa e positiva de expectativa. A viagem, porém, só começa quando se abandona qualquer expectativa, quando se deixa de lado tanto o medo como a esperança. Nessa hora, começa a aceitação. Aceitar, porém, é a mais difícil das aventuras.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ascensão e pausa

Johannes Itten - Ascensão e Pausa (1919)

Como pensar a vida sobre a Terra? Se esta é a nossa condição, ela não é a finalidade para a qual o desejo dos homens, de uma maneira ou de outra, se dirige. Ascender, elevar-se, subir a escarpada montanha, eis aquilo que move o mais secreto dos segredos do homem. A pausa na ascensão é o tributo que há que pagar à gravidade, esse desejo que a Terra tem de nela prender os seus filhos.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Acção de graças

Markus Luepertz - Acção de graças (2001)

Talvez o mais importante na viagem que cabe a cada ser humano seja a acção de graças. Esta não é meramente um exercício religioso, onde o fiel, perante a divindade, reconhece a graça recebida e a sua omnipotência. A acção de graças é um acto social de reconhecimento daquilo que em nós é devedor do outro, seja este outro um ser humano, um animal ou a natureza em geral. E o que haverá em nós que não seja devedor do outro? Na acção de graças confluem a generosidade da graça e o reconhecimento. Nessa confluência está o alicerce de toda a comunidade autêntica.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Haikai do Viandante (177)

Esteban Vicente - Ao longe (1970)

obscuras paisagens
erguem-se sobre os meus olhos
ferozes imagens

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Elemento fogo

Gustavo Torner - Átomos - Os Quatro Elementos - Fogo (1986)

Ao atingir a perfeição, tudo incandesce, a terra, a água, o ar. No princípio e no fim está o fogo. Crepita nas lareiras, braveia na floresta, sopra no fundo das galáxias. No escuro da noite, quando o coração se exalta e o espírito se ilumina, é o fogo que desce e se torna vida.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Elemento ar

Gustavo Torner - Átomos - Os Quatro Elementos - Ar (1986)

Descobre-se no sopro, canta no vento, viaja incógnito sobre terra e água. Tão subtil que parece o símbolo da ciência, a promessa de um voo, o desígnio de um profeta que, tomado pela vertigem, anuncia um mundo de fogo e desolação.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Elemento água

Gustavo Torner - Átomos - Os Quatro Elementos - Água (1986)

Presa à terra e toda ela ânsia de mobilidade, metamorfose, figura que ao perder-se se transfigura. No seio, a leveza do ar e o desejo do fogo, a vida que se incendeia. No frio, é pedra e gelo, anúncio de morte. Água, o mistério dos mistérios. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Elemento terra

Gustavo Torner - Átomos - Os Quatro Elementos - Terra (1986)

Dos quatro elementos, a terra é o mais pesado. Traz com ele o segredo da gravidade e enraíza os homens no lugar a que chamam pátria ou lar. E no entanto está prestes a liquefazer-se, pois é pó, poeira arrastada pelo vento. E sob o sopro do vendaval, as casas entregam-se à ruína e os impérios desfazem-se.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Como as árvores

Liubov Popova - Árvores (1911-12)

Árvores, raízes na terra, ramos erguidos aos céus. Se há alguma coisa que estamos a perder é a percepção da árvore como símbolo da condição humana. Também o homem pertence à terra, é nela que tem as suas raízes, mas é ao alto, aos céus, que deve aspirar. No entanto, o peso da gravidade dobra-lhe a cerviz e, impotente, o olhar perde-se no pó. Será ainda capaz de voltar a olhar para uma árvore e deixar-se instruir por ela?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Haikai do Viandante (176)

Carmen Dominguez - Cuando la luz confesó

um mistério habita
no sagrado ser da luz
voa e logo grita