quarta-feira, 21 de março de 2012

Poemas do Viandante (252)

Monet - Impression

252 - MONET, IMPRESSION

algures habita o que esperamos
o barqueiro de remo decidido
aproxima-se da margem
olhos presos na água
e no coração a voz
de quem por ele chama

sábado, 17 de março de 2012

Haikai do Viandante (56)


noite, luz, estrelas,
no jardim me sento para
na escuridão vê-las

sexta-feira, 16 de março de 2012

Poemas do Viandante (251)

Sisley - Les petits prés au printemps

251. SISLEY, LES PETITS PRÉS AU PRINTEMPS

pequenos prados
trazidos pela luz
restos de água
testemunhas de verde
a dançar sob os pés

o tempo ávido
chama por ti

caminhas leve
e absorta
pisas a erva
a memória vazia
algum amor para sempre
perdido

quarta-feira, 14 de março de 2012

Haikai do Viandante (55)

daqui

um sol amarelo
irrompe sobre o arvoredo
violento e belo

terça-feira, 13 de março de 2012

Poemas do Viandante (250)

Degas - Woman Combing her Hair

 250. DEGAS, WOMAN COMBING HER HAIR

o dia chegou
e o corpo renascido
poisa tranquilo
na orla da manhã

os cabelos
floresta de cobre
acordam sonâmbulos
no gesto vazio
preso em tua mão

domingo, 11 de março de 2012

Haikai do Viandante (54)


velha cerejeira,
onde o corvo poisado
lembra uma bandeira.

sábado, 10 de março de 2012

Poemas do Viandante (249)

Pissarro - Boulevard de Montmartre

249. PISSARRO, BOULEVARD DE MONTMARTRE

luz noite a traz 
incenso para o céu
cai sobre a terra
abre cavernas 
escuridão na avenida

e tu passas
rasto de fulgor
árvore sem ramos
presa na luz -
sombra pura e delida


sexta-feira, 9 de março de 2012

Meditação

Caravaggio - S. Jerónimo em meditação

A meditação é muitas vezes compreendida como rememoração e retorno a si. Mas se ela for apenas isto, não passará de mero solipsismo mesclado com o mais puro exercício narcísico. Voltar a si, à sua interioridade, não é voltar-se para um espelho onde o ego se contempla a si e se compraz nessa contemplação. Meditar é, fundamentalmente, perder-se não em si mas de si. Este perder-se é um mergulhar no vazio e, ao mesmo tempo, um tornar-se vazio, para que algo que nos transcende absolutamente possa vir e demorar-se aí como se estivesse em sua casa. Meditar é tornar vazia a casa do Senhor. Mas meditar é também um ir e estar no mundo, uma presença constante onde se dá testemunho dessa Outra presença que nos permite estar presentes. Medito ao escrever isto, medito quando faço um poema, medito quando falo com alguém ou caminho na rua, medito nas grandes acções e nos pequenos actos. Talvez a meditação não seja algo que nós fazemos, mas o modo como habitamos neste mundo, o modo como existimos. Meditar é a própria essência da existência humana.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Poemas do Viandante (248)

Manet - The Garden at Bellevue

248. MANET, THE GARDEN AT BELLEVUE

árvore pura sem sombra
eixo do mundo
onde o teu corpo 
volteia gira rodopia
na turbulência 
deste olhar

imóvel esperas o vento
e a cada folha que cai
acendem-se na casa 
musgos e sedas
uma fogueira -
desejo a arder
no centro do furacão

quarta-feira, 7 de março de 2012

Haikai do Viandante (53)


Velho paraíso,
guardo-te entre as coisas
de que mais preciso.