Caravaggio - S. Jerónimo em meditação
A meditação é muitas vezes compreendida como rememoração e retorno a si. Mas se ela for apenas isto, não passará de mero solipsismo mesclado com o mais puro exercício narcísico. Voltar a si, à sua interioridade, não é voltar-se para um espelho onde o ego se contempla a si e se compraz nessa contemplação. Meditar é, fundamentalmente, perder-se não em si mas de si. Este perder-se é um mergulhar no vazio e, ao mesmo tempo, um tornar-se vazio, para que algo que nos transcende absolutamente possa vir e demorar-se aí como se estivesse em sua casa. Meditar é tornar vazia a casa do Senhor. Mas meditar é também um ir e estar no mundo, uma presença constante onde se dá testemunho dessa Outra presença que nos permite estar presentes. Medito ao escrever isto, medito quando faço um poema, medito quando falo com alguém ou caminho na rua, medito nas grandes acções e nos pequenos actos. Talvez a meditação não seja algo que nós fazemos, mas o modo como habitamos neste mundo, o modo como existimos. Meditar é a própria essência da existência humana.
Sem comentários:
Enviar um comentário